Lobesia botrana
Lobesia botrana (Denis & Schiffermüller, 1775) (Lepidoptera:Tortricidae).
Traça-europeia dos cachos da videira
Equipe responsável:
Marcos Botton (Embrapa Uva e Vinho) e Alexandre Specht (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia)
1 - Características da praga (com fotos), sintomas e danos (com fotos, se possível)
A traça-europeia dos cachos da videira Lobesia botrana (Denis & Schiffermüller, 1775) (Lepidoptera:Tortricidae) é uma praga quarentenária ausente no Brasil. Devido sua importância, tanto nos locais endêmicos, como em países em que foi introduzida acidentalmente (Zumbado-Ulate et al. 2023), foi considerada entre as 20 pragas priorizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (Botton et al. 2018).
Lobesia botrana é uma mariposa pequena, com asas de apenas 6 a 8 mm de comprimento. Os Adultos têm asas anteriores de coloração de fundo marrom, entremeadas com manchas metálicas (cinza azulado, marrom ou preta). As asas posteriores são acinzentadas com borda de franjas. Em repouso o contorno das asas anteriores se assemelha ao desenho de um sino (Figuras 1 e 2).
Os ovos são achatados, de formato elíptico, medindo 0,6 mm a 0,9 mm de largura. A coloração inicial é amarelo-palha, passando gradualmente para cinza (Figuras 3 e 4). Os ovos são preferencialmente depositados pelas fêmeas nas estruturas reprodutivas da planta, independentemente do estágio fenológico.
Após o nascimento as lagartas se desenvolvem passando por cinco instares e no último, quando estão completamente desenvolvidas, medem de 9 mm a 10 mm de comprimento e 1,7 mm de largura (Figuras 5 a 7). A cabeça apresenta coloração marrom-amarelado; a coloração do corpo varia conforme o tamanho e a estrutura vegetal que a lagarta está consumindo, podendo ser esverdeada até marrom escuro.
No final do desenvolvimento as lagartas de L. botrana procuram um abrigo, entre os racimos, folhas ou até na casca dos ramos onde tecem um casulo branco opaco com aproximadamente 8–10 mm de comprimento, que geralmente é, pelo menos, parcialmente coberto por excrementos ou restos de plantas para camuflar a sua presença. No interior desse casulo a lagarta se transforma em uma pupa delgada com extremidades arredondadas de 5mm a 6mm de comprimento e 1,6 mm a 1,7 mm de largura (Figura 8). No início as pupas são marrom-esverdeado e posteriormente marrom-escuro.
2 – Distribuição geográfica
Lobesia botrana é endêmica da região Paleártica, e sua distribuição abrange especialmente os países próximos ao mar mediterrâneo incluindo a maioria dos países do Norte da África e Europa e, no oriente, inclui especialmente os países adjacentes aos Mares Negro e Cáspio (Gilligan et al. 2011, Botton et al. 2018). Em 2008, foi detectada no Chile, na região norte do Atacama ao Sul de Araucanía; em 2009, foi detectada na Califórnia, no Napa Valley e, em abril de 2010, na Argentina, na Província de Mendonza, indicando introdução recente da praga em regiões produtoras de uva muito distantes de sua distribuição original (Botton et al. 2018). Dos novos locais de detecções, somente a Califórnia conseguiu erradicar a praga em 2016 após um exitoso programa de erradicação (Botton et al. 2018, Schartel et al. 2019) (Figura 9).
3 - Hospedeiros
As lagartas de Lobesia botrana são polífagas (Gilligan et al. 2011; Botton et al. 2018; Benelli et al. 2023a), ou seja, podem se alimentar de diversos hospedeiros. Além da videira, diversas espécies vegetais pertencentes a 27 famílias botânicas já foram relatadas como hospedeiras da praga. Apesar de se alimentarem preferencialmente de plantas frutíferas como ameixeiras, caquizeiro, cerejeira, groselheira, kiwizeiro, pessegueiro, romãzeira e videira, suas lagartas podem se alimentar de plantas ornamentais e aromáticas como alecrim, craveiro, hera, lilás, etc. Na maioria destas plantas hospedeiras, as lagartas de L. botrana se preferencialmente dos órgãos reprodutivos (botões florais, flores e frutos).
Dada a importância quarentenária de L. botrana é importante que sejam feitas avaliações periódicas e inclusive a inclusão do Distrito Federal no programa de monitoramento que já vem sendo desenvolvido nas diversas regiões do Brasil (Carbonari et al. 2018).
4 – Referências
Benelli, G.; Lucchi, A.; Anfora, G.; Bagnoli, B.; Botton, M.; Campos-Herrera, R.; Carlos, C.; Daugherty, M.P.; Gemeno, C.; Harari, A.R.; Hoffmann, C.; Ioriatti, C.; López Plantey, R.J.; Reineke, A.; Ricciardi, R.; Roditakis, E.; Simmons, G.S.; Tay, W.T.; Torres-Vila, L.M.; Vontas, J.; Thiéry, D. 2023a. European grapevine moth, Lobesia botrana Part I: Biology and ecology. Entomologia Generalis 43(2):261-280. https://doi.org/10.1127/entomologia/2023/1837
Benelli, G.; Lucchi, A.; Anfora, G.; Bagnoli, B.; Botton, M.; Campos-Herrera, R.; Carlos, C.; Daugherty, M.P.; Gemeno, C.; Harari, A.R.; Hoffmann, C.; Ioriatti, C.; López Plantey, R.J.; Reineke, A.; Ricciardi, R.; Roditakis, E.; Simmons, G.S.; Tay, W.T.; Torres-Vila, L.M.; Vontas, J.; Thiéry, D. 2023b. European grapevine moth, Lobesia botrana Part II: Prevention and management. Entomologia Generalis 43(2): 281-304. https://doi.org/10.1127/entomologia/2023/1947
Botton, M.; Nodillo, A.; Carbonari, J.; Lucchi, A. 2018. Lobesia botrana Denis e Schiffermüller (Lepidoptera: Tortricidae) pp.195-209. In: Fidelis EG, Lohmann TR, Silva ML, Parizzi P, Laranjeira FF (Eds.). Priorização de pragas quarentenárias ausentes no Brasil. Embrapa, Brasília. 497p.
Carbonari, J.J.; Danieli, R.; Berle, H.; Missio, R.; Botton, M. 2018. Congresso Brasileiro de Entomologia, 27.; Congresso Latino-Americano de Entomologia, 10., Gramado, RS. Saúde, ambiente e agricultura: Anais. Santo Antonio de Goiás: SEB: UFSM, 2018. v. 2. Resumo. p. 1323.
Gilligan, T.M.; Epstein, M.E.; Passoa, S.C.; Powell, J.A.; Sage, O.C.; Brown, J.W. 2011. Discovery of Lobesia botrana ([Denis & Schiffermüller]) in California: an invasive species new to North America (Lepidoptera: Tortricidae). Proceedings of the Entomological Society of Washington 113(1): 14–30. https://doi.org/10.4289/0013-8797.113.1.14
Schartel, T.E.; Bayles, B.R.; Cooper, M.L.; Simmons, G.S.; Thomas, S.M.; Varela, L.G.; Daugherty, M.P. 2019. Reconstructing the European grapevine moth (Lepidoptera: Tortricidae), invasion in California: Insights from a successful eradication. Annals of the Entomological Society of America. 112(2): 107-117. https://doi.org/10.1093/aesa/say056
Zumbado-Ulate, H.; Schartel, T.E.; Simmons, G.S.; Daugherty, M.P. 2023. Assessing the risk of invasion by a vineyard moth pest guild. NeoBiota 86: 169-191. https://doi.org/10.3897/neobiota.86.100579
5 – Mais Informações
Fotos: Andrea Lucchi
Equipe:
Embrapa Uva e Vinho; Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Seagri-DF
Emater-DF
Apoio e parceria: Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (Projeto: "Priorização dos riscos fitossanitários e levantamentos de detecção e diagnósticos de pragas quarentenárias que ameaçam cultivos de bananeira e videira do Distrito Federal. "Termo de outorga: n.º 308/2023).