Ovinos de Corte
Campos Sulinos
Autor
José Pedro Pereira Trindade - Embrapa Pecuária Sul
A cobertura dos campos sulinos, hoje, encontra-se bastante restrita nos Estados do Paraná e Santa Catarina, sendo no passado distante predominante na paisagem. Ainda que com uma constante substituição por monoculturas, atualmente, a maior cobertura campestre encontra-se no Rio Grande do Sul. Neste se diferenciam a metade Norte e Sul.
Ao norte do Rio Grande do Sul, assim como no Paraná e em Santa Catarina, as pastagens naturais pertencem ao Bioma Mata Atlântica e formam os campos de altitude, contrastando com a mata de araucária, que caracteriza o Bioma. Já na metade Sul do Rio Grande do Sul as pastagens naturais caracterizam o Bioma Pampa, onde está concentrada a produção ovina deste Estado. Notavelmente nas Regiões Sudoeste, Campanha e Sudeste Rio Grandense, que em 2000 detinha 73% do rebanho ovino do Rio Grande do Sul. Destaca-se que a matriz forrageira da produção pecuária deste Estado é composta basicamente da produção dos campos, onde a integração da ovinocultura com a bovinocultura tem sido um instrumento fundamental de manejo da vegetação.
O fato dos campos sulinos predominarem no extremo sul do Brasil, no entanto, sempre intrigou os cientistas de vegetação, pois as condições climáticas atuais apontam a vegetação florestal potencial. Recentes evidências, no entanto, indicam os campos sulinos como formações pioneiras, ou seja, os campos sulinos são ecossistemas naturais que já existiam quando aqui chegaram os primeiros grupos humanos há cerca de 12 mil anos, certamente com uma fisionomia bastante diferente da atual, os chamados "campos grossos". Percebe-se, portanto que os campos sulinos não se originaram a partir de um processo de desmatamento. Do passado ao presente o fogo e/ou o pastejo foram os responsáveis pela manutenção das formações campestres e a fisionomia atual. A exclusão por completa destes fatores possibilita a modificação do campo desde o aparecimento de espécies forrageiras cespitosas de forragem mais grosseira, o aparecimento de arbustos culminando até o desenvolvimento de formações florestais nativas. Isto é mais facilmente constatado próximo a capões de mato e/ou áreas de mata ciliar, quando o pastejo é menos intenso ou excluído.
Este processo natural de modificação da estrutura dos campos sulinos tem como conseqüência um dilema de manejo. O manejo com alta freqüência e intensidade de desfolha levam ao sobrepastejo e assim a constante degradação da estrutura de diferentes formações campestres e a queda no potencial produtivo das pastagens naturais. Por outro lado, a desintensificação e/ou exclusão por completo do pastejo leva ao desenvolvimento de espécies forrageiras de menor preferência até o aparecimento de uma vegetação arbustiva/arbórea. Com o manejo do pastejo com ovinos estes fatores são ainda mais marcantes. Áreas de manejo integrado de ovinos e bovinos quando o ovino é removido e são mantidas as mesmas taxas de lotação há o desenvolvimento de espécies do campo que normalmente eram controladas pelos ovinos, por exemplo a "maria-mole". Por outro lado, o sobrepastejo com ovinos é muito mais degradador das pastagens naturais do que quando comparado ao sobrepastejo com bovinos, isto deve ser sempre motivo de atenção.
A integração do pastejo de bovinos e ovinos representa importante alternativa de manejo de pastagens naturais e deve ser considerada na construção de estratégias sustentáveis de uso e conservação das pastagens naturais que possibilite o aproveitamento do potencial natural dos campos.