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Embrapa Solos, que ajudou a desvendar o território brasileiro, completa 50 anos

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Foto: Arquivo

Arquivo - No prédio histórico que abriga a sede da Embrapa Solos, na Rua Jardim Botânico, funcionava o Instituto de Química Agrícola (IQA), que seria o pioneiro no Brasil na pesquisa de solos

No prédio histórico que abriga a sede da Embrapa Solos, na Rua Jardim Botânico, funcionava o Instituto de Química Agrícola (IQA), que seria o pioneiro no Brasil na pesquisa de solos

A Embrapa Solos, centro de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária localizado no Rio de Janeiro (RJ), com uma unidade de execução de P&D no Recife (PE), celebra 50 anos de história neste 28 de maio. Em cinco décadas de atuação, a Unidade e uma grande rede de parceiros lideraram e participaram de projetos que desbravaram o País para expandir o conhecimento dos solos brasileiros, além de aprimorar metodologias e aperfeiçoar a execução dos levantamentos de solos em diferentes níveis e escalas.

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A trajetória da Embrapa Solos se entrelaça com a história da Ciência do Solo antes mesmo da sua criação. No prédio histórico que abriga sua sede, na Rua Jardim Botânico, funcionava o Instituto de Química, fundado em 1918 e rebatizado como Instituto de Química Agrícola (IQA) em 1934, que seria o pioneiro no Brasil na pesquisa de solos. Lá foi criada em 1947 a Comissão de Solos, que deu início aos primeiros levantamentos no País. No mesmo ano, foi fundada no local a Sociedade Brasileira de Ciência de Solo (SBCS), atualmente sediada em Viçosa (MG).

O ano de 1962 marcou a extinção do IQA e a criação da Divisão de Pedologia e Fertilidade do Solo, vinculada ao Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária (DNPEA), que continuou o trabalho que vinha sendo realizado na Comissão de Solos. Nesse período foi desenvolvido o Manual de Métodos de Análise de Solos (1969), de autoria de Leandro Vettori, responsável pelo início da automação das análises de solos no Brasil. A obra é referência na área até hoje, e passa por constantes atualizações realizadas pela Embrapa Solos. A versão mais recente da obra, lançada em 2017, foi a quinta publicação mais baixada no portal da Embrapa em 2024.  

A Divisão de Pedologia e Fertilidade do Solo seria transformada, em 28 de maio de 1975, no Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (SNLCS), já vinculado à Embrapa. Nascia a Embrapa Solos. O acúmulo de todo esse conhecimento gerou diversos produtos, como a primeira versão do Mapa de Solos do Brasil, lançada em 1981, sob a coordenação do pesquisador Marcelo Nunes Camargo.
 

Festa dos 50 anos terá entregas à sociedade

A solenidade de celebração dos 50 anos da Embrapa Solos será realizada nesta quarta-feira (28/05), a partir das 9h30, no Teatro Ecovilla Ri Happy – Sala Tom Jobim, na Rua Jardim Botânico, 1008, Rio de Janeiro (RJ). Na ocasião, que reunirá autoridades, parceiros e colaboradores do centro de pesquisa, serão apresentados novos produtos à sociedade, como a 6ª edição do SiBCS, mapas de estoque de carbono no solo do Rio de Janeiro, novo mapa de aptidão agrícola das terras do Brasil, aplicativo GuardeÁgua, curso EAD sobre serviços ecossistêmicos e outros.

 

Avanço no conhecimento e classificação dos solos brasileiros

As primeiras duas décadas da Embrapa Solos tiveram foco na geração de informações relacionadas aos solos do Brasil e à aptidão agrícola das terras, o que aprimorou as metodologias de campo e de laboratório.

O conhecimento reunido colaborou diretamente para os projetos de colonização e desenvolvimento no Norte e no Centro-Oeste e para a revolução provocada na agropecuária brasileira pela atuação da Embrapa e outras instituições. Pesados investimentos em tecnologia possibilitaram, entre outras inovações, a mecanização dos cultivos, a intensificação da irrigação, o uso de fertilizantes, a correção de solos e o desenvolvimento de cultivares adaptadas às condições regionais.

O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), referência mundial sobre solos tropicais, é um dos legados dessa primeira fase da Embrapa Solos. Sob coordenação da Unidade e o esforço de profissionais de diversas instituições de pesquisa e ensino do Brasil, atuantes na área de gênese, morfologia e classificação de solos, o SiBCS foi iniciado no final da década de 1970. Em 1978 foi realizada a primeira Reunião de Classificação e Correlação de Solos (RCC), no estado do Rio de Janeirro. As RCCs, cuja 16ª edição será realizada na Bahia, em outubro de 2025, passaram a desempenhar papel relevante nos processos de desenvolvimento e aperfeiçoamento do SiBCS, reunindo os principais pedólogos e outros especialistas para estudar solos pouco conhecidos e contribuir para a uniformização de critérios e conceitos taxonômicos no Sistema.

Em 1999 foi lançada em livro a primeira edição do SiBCS, que vem sendo continuamente aperfeiçoado a partir de levantamentos de solos em diversas regiões, estudos de correlação de solos e pesquisas em Ciência do Solo. Em 2018 foi lançada a 5ª edição do SiBCS, incluindo uma versão em inglês, e desde então suas versões on-line já registraram mais de 200 mil downloads totais, sendo a publicação mais baixada de toda a Embrapa em 2024. A 6ª edição do sistema será lançada oficialmente em junho deste ano.
 

Uma nova era ampliando horizontes

Em 1993 foi criado o Centro Nacional de Pesquisa dos Solos (CNPS), a nova nomenclatura da Embrapa Solos, que deu lugar ao SNLCS e passou a integrar a estrutura da empresa como centro temático com atuação nacional, com foco em pesquisa e desenvolvimento em pedologia, meio ambiente e uso do solo, integrando várias disciplinas.

O novo cenário da pesquisa agropecuária demandava a ampliação do leque de competências. Era preciso atender às demandas da sociedade para o uso sustentável dos recursos associados ao solo. Diferentes linhas de pesquisa passaram a ser desenvolvidas na Embrapa Solos, tais como recuperação de áreas degradadas, análises de água e plantas, matéria orgânica, sequestro de carbono, plantio direto, irrigação, agricultura de precisão, serviços ecossistêmicos, fertilizantes e fertilidade do solo.

Com a criação do CNPS, todas as coordenadorias regionais do SNLCS foram extintas e absorvidas por unidades mais próximas, com exceção da do Nordeste, hoje denominada Unidade de Execução de Pesquisa de Recife (UEP Recife). Vinculada à Embrapa Solos, ela atende a demandas regionais, englobando levantamentos de solos e suas aplicações, a exemplo de zoneamentos agroecológicos regionais e estaduais, destacando-se o tema da convivência produtiva com a seca.

Outro legado importante do início da década de 1990 é a criação do Programa de Análise de Qualidade de Laboratórios de Fertilidade (PAQLF), coordenado pela Embrapa Solos e que conta atualmente com a participação de mais de 150 laboratórios de fertilidade que utilizam o Método Embrapa de Análise de Solos. Em seu início, o PAQLF teve como objetivo proporcionar um meio de avaliação e de correção da qualidade analítica dos laboratórios participantes. Com a adoção do Selo de Qualidade PAQLF, a partir de 1998, também passou a funcionar como um meio de atestar o desempenho satisfatório dos participantes perante seus clientes externos.

Entre as inúmeras entregas da Embrapa Solos à sociedade ao longo das últimas três décadas estão o aperfeiçoamento de práticas agropecuárias em sistemas integrados e plantio direto; a criação de produtos e sistemas voltados ao manejo intensivo e integrado de solo e água, como o Sistema Brasileiro de Classificação de Terras para Irrigação (SiBCTI); o aperfeiçoamento de modelos de barragens subterrâneas; o desenvolvimento de fertilizantes organominerais e o Tomatec, um sistema de cultivo sustentável de tomate. 

Nos últimos anos, o centro de pesquisa também entregou importantes metodologias e indicadores relacionados a serviços ambientais na paisagem rural. A publicação de materiais de referência como o Manual para Pagamento por Serviços Ambientais Hídricos e o Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos tem apoiado a formulação de políticas públicas. Destaque também para o avanço nas metodologias do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), com a inserção do componente solo, fortalecendo o Zarc como instrumento de políticas públicas de gestão de risco; estudos para apoiar Indicações Geográficas (IG), a exemplo da IG da Laranja de Tanguá; os zoneamentos agroecológicos para diversas culturas e regiões, baseados em levantamentos e estudos de solos e desenvolvidos com processamentos e métodos de pedometria avançados, com uso de geoestatística; e mapeamentos que subsidiam políticas públicas e gestores rurais, como os mapas de estoque de carbono orgânico do solo, mapas de suscetibilidade e vulnerabilidade dos solos à erosão hídrica, mapas de atributos do solo do Mato Grosso do Sul em escala 1:100.000 etc. 

Destaque também para produtos como o Fertmovel, laboratório itinerante de análise de solos; o SoloFlux, primeiro equipamento digital do Brasil para medir permeabilidade do solo e o  SpecSolo, uma tecnologia de análise de solos por espectroscopia no infravermelho próximo, utilizando química verde, sem uso de reagentes.

 

Impactos futuros e os desafios de PD&I

A Embrapa Solos tem papel de destaque em duas iniciativas com importância estratégica para o Brasil: o Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos do Brasil (PronaSolos) e a Rede FertBrasil. 

O PronaSolos é um programa de Estado que mobilizará nas próximas três décadas centenas de especialistas para investigação, documentação, inventário e interpretação dos dados de solos brasileiros. O objetivo é mapear 1,3 milhão de km² do País nos primeiros dez anos, e mais 6,9 milhões de km² até 2048, em escalas que vão de 1:25.000 a 1:100.000. A governança do programa reúne seis ministérios, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e cerca de 40 instituições e órgãos. A primeira grande entrega aconteceu em dezembro de 2020: a plataforma tecnológica do PronaSolos, sistema de informações geográficas (SigWeb) que reúne mapas e dados de solos produzidos nos últimos 60 anos por diversos órgãos.

Já a Rede FertBrasil congrega 15 Unidades da Embrapa, sob liderança da Embrapa Solos, o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), o Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) e cinco universidades federais em ações de PD&I para o avanço do conhecimento sobre fertilizantes e geração de tecnologias e produtos com potencial de inovação, além de alavancar a indústria nacional de fertilizantes, aumentar a eficiência de uso e minimizar o impacto ambiental negativo dos fertilizantes e das novas fontes de nutrientes.

Nesse mesmo tema, o centro de pesquisa lidera um projeto que está desenvolvendo a Plataforma Fertiliza, uma rede integrada de dados de análises de fertilidade de solo e de análise foliar de todo o Brasil, concentrando dados, serviços e conhecimento para apoiar o uso eficiente de fertilizantes e corretivos de solo para o produtor rural. A expectativa é que uma versão beta do produto seja disponibilizado à sociedade no fim de 2025.

Outro projeto estratégico é o Módulo IS_Agro, proposto pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e executado pela Embrapa Solos, em parceria com o SGB/CPRM. O objetivo é gerar e organizar dados multifontes, realizar cálculos automáticos e disponibilizar em uma plataforma na internet índices e indicadores agro-socioambientais para avaliação da sustentabilidade da agricultura brasileira, utilizando os indicadores e métricas propostos e recomendados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e adaptando-os à realidade tropical e sub-tropical do País.

A Embrapa Solos também está colaborando, juntamente com Embrapa Agrobiologia e Embrapa Agroindústria de Alimentos, para a implementação do Polo de Inovação Tecnológica do Agronegócio no Rio de Janeiro (PITEC Agro), que tem o objetivo de congregar representantes de diversos órgãos e entidades, públicos e privados, para alavancar o desenvolvimento regional da agropecuária fluminense por meio da inovação. Um grupo de trabalho, criado por uma resolução conjunta das secretarias estaduais de Agricultura e Desenvolvimento Econômico, irá constituir formalmente um comitê de implementação permanente do polo. 

Mirando ações e projetos futuros, os gestores do centro de pesquisa apontam como principais desafios de PD&I as crescentes demandas por métricas para rastreabilidade da sustentabilidade na agricultura e mecanismos de compensação aos produtores, apoiando políticas de pagamentos por serviços ambientais e certificações; ferramentas de agricultura de precisão e plataformas digitais com disponibilização de dados e informações de solos e sua ambiência; metodologias de mapeamento digital dos solos de baixo custo; soluções para recuperação de terras degradadas e sua reinserção nos sistemas de produção; além da geração de informações e métodos para adaptação às mudanças climáticas e redução das emissões de gases de efeito estufa pela agropecuária.

 

Fernando Gregio (MTb 42.280/SP)
Embrapa Solos

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