O pesquisador Lafayette Franco Sobral encerrou suas atividades na Embrapa na sexta-feira (8), após mais de 50 anos de uma irretocável trajetória na Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE). Reconhecido no meio acadêmico e na pesquisa científica como um dos maiores especialistas em solos e nutrição de plantas do Brasil e do mundo, Lafayette deixa um rico legado de conhecimento e soluções tecnológicas relevantes, especialmente para a cultura do coqueiro. Para contar sua história profissional, voltamos à década de 1970. Recém-formado em Agronomia pela Universidade Federal da Bahia, em 1971, não demorou a ser convidado para trabalhar no Ministério da Agricultura. Nesta época, o seu histórico curricular em fertilidade teve um peso significativo na contratação. Começo Em 1973, foi contratado pela extinta Ancarba - Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural da Bahia. Logo em seguida, foi admitido pela recém-criada Embrapa, cuja representação em Sergipe funcionava onde hoje fica o Parque Augusto Franco (Sementeira). No início de 1974, Lafayette foi selecionado para fazer mestrado na Escola Superior Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Juntamente com mais três colegas, iniciava ali a preparação técnico-científica que, alguns anos depois, o ajudaria a colocar em destaque o Centro Nacional de Pesquisa do Coco - CNPCo, denominação de 1985 a 1993 da hoje Embrapa Tabuleiros Costeiros, reconhecido internacionalmente pelas pesquisas com essa cultura. “Fomos eu e Zorilda (pesquisadora aposentada) para a área de fertilidade; Luiz Alberto (pesquisador aposentado) na parte de fitotecnia; e Jorge Sobral (pesquisador e ex-chefe já falecido) em nutrição animal”. Em 1975, obteve Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas, pela Esalq/USP, e na década de 1980 se tornou doutor em Ciências do Solo, pela Texas A M University, nos Estados Unidos. Nas décadas seguintes, complementou sua formação com pós-doutorado em Fertilidade do Solo, na North Carolina State University (1996 e 2004). Gestão Conhecedor profundo das pesquisas e processos que nortearam a Unidade, ao longo dessas cinco décadas, foi chefe-geral da Embrapa Tabuleiros Costeiros por duas gestões, deixando sua marca de profissional e gestor ético e competente. Na primeira gestão, de 1990 a 1995, Lafayette destaca a melhoria dos campos experimentais, valorizando sempre as competências internas da Unidade. “Recuperei todos os campos experimentais, sem contratar uma empresa sequer aqui. Railton e Raimundo fizeram toda a parte de recuperação, com a ajuda de outros empregados. “Nesse período, ocorreu a extinção (1991) da Empease - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Sergipe. Edmilson Machado (ex-chefe da Embrapa) era o secretário, nesta época. Ele me ligou e disse: pegue tudo que tem na Empease e leve para a Embrapa”, explica se referindo ao material que foi utilizado nos campos”. Ainda nesta gestão, Lafayette lembra que teve uma grande ajuda do colega Evandro Tupi (falecido em 2022). “Tupi era um dos melhores apuradores de problemas”. Tinha um problema, você botava Tupi e o problema era resolvido, na hora”, relembra saudoso do colega. Na segunda gestão, de 1999 a 2004, o marco principal foi a elevação da classificação da Unidade que estava na última posição, quando assumiu, passando a 8º lugar, entre as mais de 40, na avaliação corporativa da Embrapa. Lafayette atribui essa guinada ao trabalho de Amaury Apolônio que era chefe de P&D; Aparecida Santana, organizando as publicações; Lurdinha; Marcos Silva e Vinicius. “Ganhamos também dois campeonatos nacionais de Melhoria de Processos: um do Comitê Local de Publicações; outro com o SAO, que é o Sistema de Acompanhamento Orçamentário, organizado por Alberto Nery (falecido em 2012). Ele foi um grande esteio da minha gestão”, agradece. Contribuições e reconhecimento Entre suas produções científicas mais relevantes, destacam-se a atuação como editor do livro ‘Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes no Estado de Sergipe’, largamente utilizado em cursos de agronomia no Nordeste, o desenvolvimento do FertOnline, software aberto de uso gratuito para recomendações de fertilizantes para as culturas do coqueiro, laranja e milho com base em análises de solo e folha, a co-autoria do Sistema de Produção da Cultura do Coqueiro e do livro ‘A Cultura do Coqueiro no Brasil’. Em 2014, Lafayette foi reconhecido com o Prêmio Agrônomo do Ano pela Associação de Engenheiros-Agrônomos de Sergipe (AEASE). Aprovado por unanimidade no Colegiado do Departamento de Agronomia e no Conepe, bem como validado por todos os membros do Conselho Universitário (Consu) da UFS, Lafayette receberá, em 2025, o título Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Sergipe. Amizade e parceria Sobre as relações com os colegas, Lafayette diz ter sido ajudado por todos e destaca a importância de cada um para o resultado de uma trajetória harmoniosa dentro da empresa. “Aqui, fui muito ajudado, muito!, por Amaury Apolônio, Nery, Lurdinha, Fátima Dantas, Aparecida, Gislene, como minha primeira secretária, e sempre me dei bem com Cintra, Humberto, Rangel, Joana e muitos colegas”, rememora. Figura sempre respeitada pelos colegas por sua competência técnica, Lafayette deixa uma mensagem a todos e destaca: “A Embrapa vai ter que ser reinventada. Isso terá que se fazer! Quando a gente começou, não tinha competição, nós dominávamos o campo. E, agora, acirrou-se a concorrência e ela vai ter que se reinventar. Aqui, nós temos bons pesquisadores. Essa turma jovem (destacando Marcelo Fernandes, Rodrigo Fujimoto, Emiliano Costa) pode fazer a diferença. A saída desses “velhos” vai abrir uma lacuna, mas é preciso se reinventar porque estamos perdendo protagonismo”, aponta. Aposentadoria Decisão por muito tempo adiada, por sua paixão pelo trabalho, foi no meio familiar que Lafayette encontrou apoio para decidir pela aposentadoria. Pai de duas filhas e um filho, Lafayette conta que houve certa divisão de opinião. “Meu filho ficou um pouco preocupado, porque achava que eu poderia ficar ocioso, e as minhas filhas ficaram neutras, mas a minha esposa foi quem me apoiou. Teve momentos que quis adiar e ela disse: você acertou, saia!”, brinca. Agora, com mais tempo livre, o Lafayette quer se dedicar à fazenda de gado de leite, organizar os leilões com o filho e curtir mais a família. Nos últimos dois anos, convivendo mais de perto com os colegas Luciana Carvalho e Joézio dos Anjos, Lafayette faz um agradecimento especial: “Eles me ajudaram muito”, finaliza, com a certeza de que seu dever foi cumprido. Despedida Na tarde da quarta-feira (6), a emoção tomou conta dos colegas e colaboradores na despedida do pesquisador Lafayette, na sede da Unidade, em Aracaju. Veja abaixo a galeria de imagens do evento de despedida do pesquisador Na presença da esposa, filhas, filho, neta e do irmão, o colega também ficou emocionado e segurou as lágrimas com tantas mensagens de carinho e boas lembranças dos momentos da sua trajetória na Embrapa. Um misto de gratidão, respeito, exemplo de ética e competência definiu cada uma das dedicatórias e depoimentos daqueles que se sentiram agraciados por terem convivido profissionalmente com o pesquisador Lafayette. Com a voz embargada, ele agradeceu a presença de todos. “Tudo isso que foi dito é ainda mais importante porque foi dito comigo vivo. Ouvi, hoje, um sentimento real, verdadeiro. Meu fraterno agradecimento a todos”, declarou! Lafayette deixa para a pesquisa agropecuária brasileira e para a Embrapa Tabuleiros Costeiros um legado da maior relevância, e merece todas as homenagens no encerramento desse ciclo profissional.