Empresa da Coreia do Sul visita trabalho de melhoramento genético de soja convencional
Empresa da Coreia do Sul visita trabalho de melhoramento genético de soja convencional
Foto: Breno Lobato
Representantes da aT visitaram o ensaio com linhagens e variedades de soja convencional em fazenda de Paracatu (MG)
Representantes do escritório de São Paulo da Korea Agro-Fisheries & Food and Trade Corporation (aT), empresa pública importadora de alimentos para a Coreia do Sul, visitaram ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) de materiais de soja convencional da Embrapa conduzidos pela Embrapa Cerrados (DF) na Fazenda Dourados, do Grupo Recanto, em Paracatu (MG), no dia 28 de agosto.
A Coreia do Sul consome atualmente cerca de 360 mil toneladas de soja por ano para uso alimentar. Em 2024, a aT assinou um memorando de entendimento para o estabelecimento de uma parceria com a Embrapa Cerrados e a Fundação Cerrados para o desenvolvimento de cultivares de soja não-transgênica de alto rendimento que sirvam de base na fabricação de produtos alimentícios, principalmente tofu, pasta de soja fermentada (doenjang) e leite de soja.
A empresa coreana tem importado os grãos dos Estados Unidos e agora quer diversificar os fornecedores. A Unidade enviou, inicialmente, grãos de cinco linhagens para testes laboratoriais no país asiático. “Produzimos tofu a partir das cinco amostras de soja brasileiras e avaliamos aspectos como rendimento, capacidade de coagulação e sabor. A partir dessa análise, foram selecionadas duas variedades que se aproximaram bastante do tofu que já é consumido no mercado coreano e que mostraram maior potencial de substituição da soja”, explica a diretora da aT em São Paulo, Yousun Jung. Nas próximas semanas, serão enviados 700 kg de grãos desses materiais para testes industriais.
Antes de seguirem para a fazenda, Jung e a analista de mercado Lidia Kim foram recebidas na Embrapa Cerrados pelo chefe-geral Sebastião Pedro, pelo técnico Nilton José de Almeida e pelo produtor de sementes Luiz Fiorese, presidente do Instituto Soja Livre e da Fundação Cerrados.
Para Sebastião Pedro, a parceria é importante por permitir que a pesquisa em melhoramento genético de soja convencional realizada pela Unidade tenha a participação da indústria alimentícia coreana, que indicará as características mais demandadas. “Com isso, estamos fazendo um melhoramento participativo, em que a seleção genética pelos caracteres agronômicos e de qualidade possam ser balizados por parâmetros industriais trazidos diretamente do cliente”, explica.
O chefe-geral lembra que é a primeira vez que a Embrapa Cerrados realiza esse tipo de trabalho. “Com a avaliação das linhagens pela indústria, estamos selecionando materiais que servirão diretamente a esse propósito especial que é a produção de alimentos para consumo humano”, completa.
Produtor atesta potencial dos materiais avaliados
Com 800 ha de área irrigada, a Fazenda Dourados foi adquirida há pouco mais de dois anos pelo Grupo Recanto. Além da soja, devem ser cultivados feijão, milho, sorgo e algodão.
O ensaio de VCU na propriedade envolve 132 linhagens do programa de melhoramento genético de soja da Embrapa em fase de competição final – entre elas, uma das já selecionadas pelos coreanos, plantada em 0,9 ha – e sete cultivares em fase de registro numa área de 6 ha sob pivô de irrigação, semeados em 3 de junho e com colheita prevista para o início de outubro.
Além de avaliar o desempenho agronômico, a ideia é enviar para teste grãos dos materiais que possam atender às exigências nutricionais do mercado coreano de alimentos, sobretudo quanto ao teor de proteína (que deve ser acima de 36%) e de ácidos graxos poli-insaturados linoléico (Ômega-6) e linolênico (Ômega-3).
Frederico Elias, um dos sócios do Grupo Recanto, vislumbra duas possibilidades com o ensaio: “Uma é a multiplicação de soja convencional para consumo humano. E a outra, que tem sido uma grata surpresa, é o potencial da soja plantada nesta época para a multiplicação de sementes, o que geralmente não é feito”, afirma, destacando o porte e o tamanho das plantas, bem como a quantidade de vagens por planta.
O consultor Elmiro Queiroz explica que o manejo nutricional diferenciado, com adubação rica em silício, cálcio e boro, tem contribuído para o bom desenvolvimento das plantas mesmo no inverno, quando o fotoperíodo (período de incidência de luz ao longo do dia) é menor e, normalmente, a soja não cresce. “As plantas agora estão na fase de enchimento de grãos, com um porte expressivo. Os resultados preliminares mostram que é possível produzir uma soja altamente produtiva, que nos permite multiplicar os materiais mais rapidamente”, diz.
Ele acrescenta que o manejo nutricional utilizado, além de promover o crescimento celular das plantas, conferiu maior rigidez às folhas, o que favoreceu o controle de lagartas como a falsa-medideira e amenizou a pressão da mosca branca. “Até agora, não fizemos pulverizações para lagartas nem para percevejos”, completa, apontando a redução de custos.
Para a diretora Yousun Jung, foi muito importante poder ver no campo as diferentes variedades e linhagens de soja desenvolvidas pela Embrapa. “Tinha curiosidade de entender como a instituição faz a gestão das sementes para pesquisa e me surpreendi ao saber que hoje existem mais de 130 em fase experimental. Foi uma experiência muito enriquecedora perceber como o trabalho da Embrapa é bem conduzido e feito em parceria com os produtores”, afirma.
Expectativas positivas
Luiz Fiorese prevê que até meados do ano que vem será possível obter um volume de sementes suficiente para iniciar, na safra 2026/27, a produção grãos de dois a três materiais para atender à demanda coreana. “É mais um mercado que estamos abrindo, ampliando o leque da soja convencional, que não se limita ao mercado europeu. Temos que aproveitar essa oportunidade”, destaca, lembrando que diversos países têm sido sobretaxados pelos Estados Unidos e estão buscando diversificar as importações.
Ele acrescenta que os materiais que obtiverem boa resposta produtiva na região de Paracatu, no Noroeste mineiro, e atendam às exigências dos coreanos deverão ser adaptados para produção em outras regiões sojícolas brasileiras. “Agora é obtermos as variedades para produzir e atender a um mercado que não é só a Coreia do Sul. Outros países asiáticos como o Japão também demandam esse tipo de soja”, observa.
“A aT e a Embrapa são instituições públicas e acreditamos que, ao compartilharmos informações e trabalharmos juntos, com base em dados confiáveis, podemos contribuir para o avanço da agricultura nos dois países e, ao mesmo tempo, gerar benefícios para a população brasileira e coreana”, projeta Yousun Jung.
Breno Lobato (MTb 9417/MG)
Embrapa Cerrados
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