07/07/25 |   Melhoramento genético  Nanotecnologia  Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação  Produção animal  Transferência de Tecnologia

Workshop apresenta inovações sobre uso de nanotecnologias e inseminação artificial para caprinocultura

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Foto: Izabel Carneiro

Izabel Carneiro - Pesquisadora Patrícia Martins apresentou resultados de uso de nanotecnologias para tratamento da linfadenite caseosa

Pesquisadora Patrícia Martins apresentou resultados de uso de nanotecnologias para tratamento da linfadenite caseosa

Inovações para a atividade da caprinocultura leiteira nas áreas de sanidade e reprodução animal foram destaque na programação do 19º Workshop de Produção de Caprinos na Região da Mata Atlântica, realizado nos dias 4 e 5 de julho, no auditório do campo experimental José Henrique Bruschi, da Embrapa Gado de Leite, em Coronel Pacheco (MG). As experiências do uso de nanotecnologias para tratamento da linfadenite caseosa e o desenvolvimento do Sistema Embrapa de Inseminação Artificial foram apresentados ao público presente como potenciais novidades resultantes de pesquisas para a atividade.

A pesquisadora Patrícia Yoshida Martins, do Núcleo Sudeste da Embrapa Caprinos e Ovinos (sediado na Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora-MG), mostrou resultados de pesquisas para tratamento da linfadenite, doença causada por bactéria que provoca o aparecimento de abscessos em animais e pode provocar perdas produtivas e até morte de animais. Em destaque, o uso de nanofibras para abscessos abertos, que nos experimentos mostrou que pode ser um tratamento mais rápido que o uso convencional de tintura de iodo, além do uso de nanopartículas para tratamento precoce de abscessos ainda fechados. As pesquisas estão sendo desenvolvidas, respectivamente, em parceria com a Embrapa Instrumentação (São Carlos-SP) e Embrapa Gado de Leite.

“Com as nanofibras, consigo uma evolução mais rápida – com tintura de iodo o abscesso cessa em dez dias, com as nanofibras, em oito dias - e que promove um bem-estar melhor, por ser um material mais biocompatível. A fase atual em que a gente está agora é ajustar a medicação que estamos colocando nessas nanofibras para conseguir ter a erradicação da infecção. Já o uso das nanopartículas possibilita o tratamento de abscessos precoces, ainda fechados: não vou esperar o abscesso amadurecer para entrar com a tintura de iodo e também se mostra melhor que um uso de antibiótico convencional, porque eu precisaria usar uma dose muito alta de antibiótico para atingir os níveis de eficiência que preciso”, explicou a pesquisadora.

Outra inovação é o Sistema Embrapa de Inseminação Artificial, que integra técnicas de manejo e protocolos orientados para melhor eficiência da inseminação, incluindo a seleção dos animais; o uso da técnica Embrapa de Inseminação Artificial Transcervical; a estratégia a ser usada para a inseminação; possíveis prevenções ou correções de problemas fisiológicos em cabras ou bodes. “Com as recomendações tecnológicas e os componentes do Sistema, é possível potencializar elevadas taxas de gestação em cabras inseminadas artificialmente em todas as estações do ano”, destacou o pesquisador Jeferson Fonseca, também do Núcleo Sudeste da Embrapa Caprinos e Ovinos.

Segundo Jeferson, a Embrapa e instituições parceiras estão atualmente centradas em alternativas, testadas em sistemas de produção em condições tropicais, que melhorem a eficiência da inseminação e reduzam, progressivamente, a necessidade de hormônios. “Temos uma técnica, protocolos eficientes e conhecimento associado de fácil assimilação para os inseminadores, que nos permitem ter taxas inacreditáveis de sucesso”, avalia ele.

 

Conservação de recursos genéticos

Outra experiência de pesquisa apresentada no Workshop foi dos bancos de germoplasma para fins de melhoramento genético de caprinos e ovinos. Os bancos, coleções de material genético como sêmen e embriões preservados, permitem estratégias para a conservação de raças, incluindo, entre outras finalidades, o uso deste material para inseminação artificial e até mesmo evitar risco de extinção.

De acordo com o pesquisador Kleibe Moraes, da Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral-CE), um dos resultados de sucesso dos bancos mantidos pela empresa é termos, atualmente, raças que já não correm mais riscos de extinção, como os ovinos Santa Inês ou os bovinos Curraleiro Pé-Duro. “Dentre aquelas raças que tinham possibilidade de extinção, há aquelas que hoje temos material para que, se essas raças in situ [em seu ambiente de origem] desaparecerem, temos condições de recuperá-las hoje.  A Santa Inês, inclusive, já está saindo do nosso programa de conservação, porque não existe mais risco dessa raça desaparecer, devido à quantidade de sêmen e embriões que mantemos no banco de germoplasma”, frisou ele.

 

Histórico de pesquisas na caprinocultura leiteira

Os 50 anos de criação da Embrapa Caprinos e Ovinos também foram lembrados no Workshop, com apresentação da pesquisadora Ana Clara Cavalcante, chefe-geral da Unidade, sobre a contribuição de cinco décadas de pesquisas em caprinocultura leiteira. Ela ressaltou que as pesquisas na área começaram a se intensificar na busca por segurança alimentar de populações na região Nordeste, mas posteriormente evoluíram para, hoje, se ter um leque de projetos que abrange áreas como sistemas de produção, pastagens, melhoramento animal, sanidade, nutrição animal, entre outras.

Para a pesquisadora, é importante que as ações de pesquisa se deem em cooperação com associações de produtores, cooperativas, agroindústrias, em uma interação que permita conexão entre a ciência e as práticas da atividade. “Nosso desafio hoje é integrar diferentes competências e recursos para produzir leite, em quantidade e com qualidade, em modelos de produção que necessitam de intensificação para se viabilizar. Assim, a gente pode se unir e acessar mercados, aumentar a valorização do produto, fortalecer a cadeia da caprinocultura leiteira como atividade produtiva”, afirmou ela.

 

Cenários no Brasil e exterior

A 19ª edição do Workshop também recebeu palestrantes convidados, que colaboraram na discussão de cenários sobre a atividade produtiva no Brasil e no exterior. O zootecnista Luciano Piovesan apresentou dados da Expedição Bééé, que já percorreu, desde outubro de 2023, 179 municípios e 251 propriedades rurais, com objetivo de compartilhar histórias, estimular a caprinocultura e traçar um perfil de produtores rurais ligados à atividade.

Para Luciano, apesar da diversidade das realidades e sistemas de produção nas diferentes regiões brasileiras, o setor possui desafios em comum no país, como a necessidade de definir, com maior clareza, objetivos dos sistemas de produção, profissionalizar a atividade e estimular um modelo de assistência técnica continuada.  “Há um mercado gigante para se trabalhar, mas que estamos negligenciando. Para fomentar a atividade, para colocar o produtor em mercados diferenciados, com preço, com valor agregado, dando oportunidades. Temos que explorar mais isso com políticas públicas e o produtor deve estar atento a este mercado”, ressaltou ele.

Já o médico-veterinário Felipe Santos, da empresa de consultoria Qualibééé, trouxe a experiência de visitas a Portugal e Espanha, onde conheceu produtores rurais, queijarias, abatedouro, central de melhoramento animal, cooperativas e profissionais autônomos, para um retrato dos sistemas de produção na Península Ibérica.

Segundo Felipe, os países ibéricos comportam diversas queijarias compatíveis com a realidade brasileira, com produção artesanal e mão-de-obra familiar. A experiência de lá, porém, mostra um possível caminho para os produtores brasileiros: uma ênfase maior no cooperativismo para ganhar espaço nos mercados. “São cooperativas de agroindústrias, de queijarias. Só assim a gente vai conseguir vencer o mercado, se a gente se unir. No Brasil, há mercado para todo mundo, mas está faltando espaço e visibilidade na gôndola do supermercado”, ponderou ele.

Além das palestras no dia 4, os participantes também visitaram, no dia 5, propriedades rurais no Circuito Serras e Cabras da Mata Atlântica. A 19ª edição do Workshop contou com participação de 174 pessoas inscritas (nos formatos presencial e on-line). A programação de palestras está disponível no canal da Embrapa no YouTube: https://www.youtube.com/live/APhHwNZIno8

O evento foi realizado pela Embrapa, Prefeitura Municipal de Coronel Pacheco (MG) e Associação dos Criadores de Cabras Leiteiras da Zona da Mata de Minas Gerais (Caprima), com patrocínio da empresa WTA, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e apoio da Associação de Empregados da Embrapa Gado de Leite.

Adilson Nóbrega (MTB/CE 01269 JP)
Embrapa Caprinos e Ovinos

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