Caminhos para enfrentar desafios da crise climática passam pela ciência e políticas públicas
Caminhos para enfrentar desafios da crise climática passam pela ciência e políticas públicas
Enfrentar os desafios da mudança do clima para o bioma Amazônia passa pela ciência e pela formulação de políticas públicas em apoio à conservação e o uso sustentável da biodiversidade, assim como no investimento e fortalecimento da pesquisa científica para a inovação, de modo a promover condições para o fortalecimento da bioeconomia com inclusão socioprodutiva, assim como políticas para viabilizar a produção agrícola de forma sustentável, que permitam geração de renda para as populações que vivem na região. Essas foram mensagens convergentes entre os participantes da programação do Diálogos pelo Clima/Bioma Amazônia, na tarde de 2 de julho, em Manaus.
O evento promovido pela Embrapa, ocorreu no auditório do instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) reunindo mais de 150 pessoas, entre representantes do setor produtivo, instituições do governo, pesquisadores e sociedade civil. Participaram gestores e pesquisadores das Unidades da Embrapa na Amazônia, assim como diretores da Embrapa, Clenio Pillon (Pesquisa e Desenvolvimento), Ana Euler (Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia) e Selma Beltrão (Administração).
“A ciência tem um papel ativo, é a ciência que nos alerta, propõe alternativas e constrói soluções, ou nos dá as bases para construir soluções adaptativas e também da mitigação com base em conhecimentos interculturais e ecossistêmicos” destacou o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Henrique Pereira, em palestra sobre o “Papel da pesquisa diante dos desafios impostos pelas mudanças do Clima na Amazônia”. Em sua apresentação ressaltou a trajetória e a importância das pesquisas científicas na Amazônia, que contam com uma ampla rede de instituições brasileiras e estrangeiras, que vem contribuindo para o entendimento dos impactos globais e locais dessas mudanças climáticas. “A pesquisa científica é o que nos permite antecipar, prevenir e transformar, mas para isso ela precisa ser reconhecida como parte da solução e construída coletivamente - como estamos fazendo hoje neste evento - financiada, valorizada e genuinamente conectada com a sociedade”, destacou o pesquisador.
Na mesa redonda “Os desafios da mudança do clima para o bioma Amazônia - agriculturas, pecuária, bioeconomia, florestas”, foram citados pelos participantes desafios mas também caminhos para enfrentar a crise climática assim como para gerar oportunidades para o Brasil neste cenário.
Representando o setor de cooperativas, Petrucio Magalhães Júnior, presidente do Sistema OCB-Sescoop, no estado Amazonas, ressaltou que cerca de 30 milhões de pessoas vivem na Amazônia um desafio é garantir oportunidades e segurança alimentar a todo esse contingente de pessoas. “Essas pessoas precisam de oportunidades e que a gente acredita que essas oportunidades existem”, entretanto é preciso avançar e superar questões como a regularização fundiária, o acesso a crédito e assistência técnica de modo a viabilizar que aconteçam atividades produtivas sustentáveis no bioma, garantindo renda e garantindo dignidade às pessoas vivem na região.
Para a produtora rural pecuarista, Teresa Vendramini, um caminho que não tem volta é necessidade do setor produtivo rural adotar planos de adaptação às mudanças climáticas, com tecnologias e conhecimentos para produzir com maior sustentabilidade e contribuir com a segurança alimentar no país, considerando que 70% da produção brasileira de carne fica no mercado interno. “Nós temos condições de reduzir significativamente a emissão de metano no gado bovino, desde que a gente tenha políticas públicas para isso, ter recursos para o desenvolvimento científico e tecnológico”, ressaltou o deputado federal Rodrigo Rollemberg, ex-secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. “O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos no mundo e no entanto tem uma agricultura extremamente dependente de insumos químicos. Nós importamos 70% dos nitrogenados, 85% dos fosfatados, 98% do potássio. E nós temos na própria Embrapa exemplo de que a gente pode mudar gradativamente e aceleradamente isso”, comentou, citando exemplos de tecnologias como o sistema de Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF) e a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) que permitem reduzir emissões e ao mesmo tempo gerar economia nos processos da agricultura.
Outro exemplo citado como uma oportunidade é em relação a substituição de combustíveis fósseis por combustíveis renováveis. “Nós podemos dobrar a nossa produção de biocombustíveis utilizando apenas 5% das áreas de pastagens degradadas, e ao substituir combustíveis fósseis por combustíveis renováveis, nós vamos melhorar a qualidade do clima no planeta”, disse Rollemberg. Ressaltou ainda que é necessário superar desafios de logística e de infraestrutura para escalar a bioeconomia na Amazônia. Citou que há desafios enormes de logística e de infraestrutura para escalar a bioeconomia, exemplificando que se não tiver energia não se tem conservação dos alimentos, não se tem conectividade, não se vende os produtos, e que é preciso também organizar a base das cadeias produtivas para ter regularidade em produtos da bioeconomia. Destacou que, em seu ponto de vista, o grande desafio é político, em convergir esforços do setor político, do setor produtivo, da comunidade científica, das populações tradicionais em torno de objetivos comuns no enfrentamento da crise climática. “Se a gente tiver efetivamente a capacidade de promover uma convergência política do País em torno desses temas, e essa é uma agenda que só tem externalidades positivas. Todos ganham. A pecuária vai ganhar porque vai ter uma pecuária mais sustentável, vai abrir outros mercados, a agricultura vai ser sustentável porque com a preservação, a restauração da floresta, nós vamos ter sistema de chuvas regularizado. As comunidades tradicionais vão ganhar porque elas serão valorizadas nos seus processos produtivos tradicionais. Enfim, o grande desafio, no meu entendimento, é o desafio de caráter político”, destacou Rollemberg.
O superintendente-adjunto de Operações e Eventos Críticos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Alan Vaz Lopes, comentou novos desafios com as emergências climáticas, como exemplo a redução de chuvas em várias regiões do Brasil, assim como a tendência geral na redução da vazão de alguns rios, que afetam questões como escoamento da produção, isolamento de comunidades, produção de energia elétrica, entre outros. Reforçou que os setores da agricultura e bioeconomia precisam estar conectados com outros setores e com a ciência. Diante desses desafios ressaltou tanto a importância da pesquisa básica, para entender os processos na relação água e florestas, assim como a pesquisa aplicada para dar respostas a problemas práticos como mapeamento de risco climático, prevenção de impactos, e também para que a ciência e tecnologias geradas contribuam com as populações mais vulneráveis, como indígenas e ribeirinhos, afetados pelas mudanças climáticas.
O presidente da Associação de Empresas Concessionárias Florestais (Confloresta), Leônidas Dahás, comentou exemplos de como o processo de concessão florestal, que ocorre desde 2006 com a Lei 11284, vem gerando empregos locais, seja com o manejo ou com a industrialização da madeira, e ao mesmo tempo permite a manutenção de serviços ambientais associados ao uso da floresta em pé.
A programação terminou com um Roda de Conversa reunindo chefes-gerais das Unidades da Embrapa na Amazônia, que discutiram o tema: Levando o bioma Amazônia para a COP30, leia a matéria Desenvolver a Amazônia precisa da conexão entre conhecimentos científico e tradicional
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Jornada pelo Clima
O circuito de eventos Diálogos pelo Clima compõe a Jornada pelo Clima, projeto de grande envergadura da Embrapa que evidencia a ciência na agropecuária brasileira como um pilar essencial para a transformação sustentável.
O Diálogos pelo Clima Bioma Amazônia conta com o patrocínio Master do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), patrocínio Biomas do Ministério da Pesca e Aquicultura, patrocínio Bioma Local da Caixa Econômica Federal e apoio institucional do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Para acompanhar a íntegra do debate acesse https://www.youtube.com/watch?v=cXo05BORExg
Síglia Souza (Mtb 66/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental
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