Emergência climática, valorização dos territórios indígenas e bioeconomia são temas do Diálogos pelo Clima da Amazônia
Emergência climática, valorização dos territórios indígenas e bioeconomia são temas do Diálogos pelo Clima da Amazônia
Foto: Síglia Souza
Especialistas do clima, associações, cooperativas e povos da floresta discutem os riscos climáticos do Bioma Amazônico
Se o planeta continuar emitindo gases de efeito estufa (GEE) na proporção de 57,1 bilhões de toneladas por ano, a estimativa é por um aumento de temperatura global de 4,3 graus Celsius, mesmo com a implementação do Acordo de Paris para a redução das emissões. A afirmação é do cientista do clima, Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física Aplicada da USP e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Ele foi o convidado da Embrapa para a abertura do Diálogos pelo Clima - Bioma Amazônia, realizado nesta quarta-feira (2), em Manaus, no auditório do instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
O evento contou com a presença dos diretores da Embrapa, Clenio Pillon (Pesquisa e Desenvolvimento), Ana Euler (Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia) e Selma Beltrão (Administração), dos chefes-gerais dos centros de pesquisa da região Norte, além do deputado federal Rodrigo Rollemberg, ex-secretário de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), além de representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do governo do estado do Amazonas, entre outras autoridades.
Diretores da Embrapa e chefes da região Norte se reúnem para discutirem as mudanças do clima no Bioma Amazônia
“Nós temos inúmeros desafios neste momento e os Diálogos pelo Clima vêm justamente para reforçar o diálogo e o debate em torno das grandes oportunidades que temos nesses encontros de gerarmos evidências para a formulação de boas políticas públicas. Não vamos apenas discutir o clima, mas também falar sobre os impactos das mudanças do clima para as pessoas que vivem nas águas, nas florestas, os agricultores familiares e também o empresarial”, afirmou o diretor Clenio Pillon ao abrir o evento.
Especialista fala sobre aumento expressivo de CO2
Artaxo destacou que o país registrou um aumento expressivo da emissão de CO2, mas também do gás metano, causado principalmente pelas emissões do gado bovino e exploração dos combustíveis fósseis. “Outro efeito considerável nas emissões é o óxido nitroso, associado á adição de fertilizantes no solo para aumento da produtividade na agropecuária”, afirmou. Ele mostrou ainda um estudo que indica que as concentrações, desde a Revolução Industrial, aumentaram em 66% em CO2, 259% em metano e 123% em óxido nitroso.
“Na década de 60, o aumento era da ordem de 0,87 parte por milhão por ano em média, atualmente esse aumento já está da ordem de 3 parte por milhão por ano, ou seja, nós estamos acelerando a mudança climática de uma maneira muito mais rápida do que os nossos auto sistemas e que a nossa sociedade pode lidar. Se olharmos só os últimos quinze anos, observamos um impacto e aceleração da mudança climática, em particular, em 2023 e 2024, que foram os dois anos mais quentes da história humana no nosso planeta”, declarou o especialista.
Acordo de Paris
Em novembro de 2024, Artaxo alertou que a temperatura global já estaria ultrapassando os 1,5 °C acima da era pré-industrial — meta que o Acordo de Paris pretendia manter até 2030–2040. Segundo ele, esse atraso no cumprimento das Contribuições Determinadas Nacionalmente (NDCs) mostra que o aumento da temperatura comparado com valores pré-industriais já vai ser acima desses 1,5 °C.
Esse aumento, segundo ele, está acelerando a mudança climática, com as temperaturas globais aumentando. O aquecimento é mais intenso em ecossistemas terrestres, ultrapassando 2°C, impactando diretamente a Amazônia e o Cerrado.
“Isso não é novidade. O Relatório do Fórum Econômico Mundial de 2016 mostra claramente que os impactos na produção de alimentos com três graus mais quente vai afetar principalmente as regiões tropicais, em particular a América do Sul, África, Índia e o sudoeste da Ásia, que são regiões hoje grandes produtoras de alimentos”, complementou.
Outro aspecto que tornou as mudanças climáticas muito mais visíveis é o aumento dos eventos climáticos extremos. Citou Rio Grande do Sul e São Paulo, com aumento de dias com chuvas e quantidade em milímetros por dia.
E quanto ao futuro dos eventos climáticos?
Artaxo explicou que os modelos climáticos também fazem previsões, tanto de cheias como em Manaus, por exemplo, quanto deslizamento de terra em Petrópolis, e mostram o seguinte: um evento que ocorria uma vez a cada 50 anos no século passado, em um planeta 4 graus mais quente, vai ocorrer 39 vezes mais e 5 vezes mais intenso.
“Portanto, é um recado importante da ciência para a sociedade, que temos de preparar o país, a economia, as cidades para um aumento muito pronunciado de eventos climáticos extremos”, afirmou.
O papel da Amazônia para o agronegócio
A Amazônia, ao processar a água evaporada do Atlântico, é crucial para o agronegócio brasileiro, especialmente através dos "rios voadores". Artaxo apresentou um estudo no qual mostra que 50% da renda do setor agropecuário em diversos estados dependem da água da Amazônia, com exemplo, o Paraná, onde 25% da produtividade agrícola é sustentada por essa água. “A mensagem enfatiza a importância da preservação da biodiversidade amazônica para combater as mudanças climáticas. Além disso, destaca o impacto da combinação de alta temperatura e umidade na saúde, afetando mais as regiões com maior umidade, e que populações vulneráveis são as mais atingidas pelas mudanças climáticas”, esclareceu, enfatizando o importante papel das terras indígenas na conversação da biodiversidade.
O exemplo que vem dos povos da floresta
Joaquim Belo, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNP), falou sobre a importância do agricultor familiar e dos extrativistas. “É na família que construímos soluções para as comunidades, é justamente onde surgem as invenções que buscam facilitar o nosso trabalho no dia a dia. A nossa relação com a floresta tem como resultado a construção de tecnologias sociais”. Natural do Amapá, e como liderança da CNP, ele diz que, no geral, as comunidades são educadas para não enxergarem a real dimensão da Amazônia, não valorizar a cultura local, mas outros valores. “Os diálogos são importantes para a construção de novas relações com a sociedade da Amazônia”. Para ele, as políticas públicas precisam enxergar as várias amazônias que existem, construir uma ciência que dialoga com as especificidades do bioma e das populações tradicionais. Ao término da manhã a mesa redonda foi conduzida pela diretora Ana Euler sobre Conhecimentos tradicionais e bioeconomia para sistemas agroalimentares resilientes na Amazônia. A mesa debateu e concluiu que os desafios para inserir a comunidade na bioeconomia é valorizar o processo de regionalização do estado: a bioeconomia é territorial e o estado precisa se abrir para possibilidades que já vem acontecendo nos territórios: regionalização e diversidade. Saiba mais sobre a mesa redonda acessando aqui. |
Jornada pelo Clima
O circuito de eventos Diálgoso pelo Clima compõe a Jornada pelo Clima, projeto de grande envergadura da Embrapa que evidencia a ciência na agropecuária brasileira como um pilar essencial para a transformação sustentável.
O Diálogos pelo Clima Bioma Amazônia conta com o patrocínio Master do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), patrocínio Biomas do Ministério da Pesca e Aquicultura, patrocínio Bioma Local da Caixa Econômica Federal e apoio institucional do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Assista às gravações do evento:
Maria Clara Guaraldo Notaroberto (MTb 5027/MG)
Assessoria de Comunicação (Ascom)
Contatos para a imprensa
imprensa@embrapa.br
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/