30/06/25 |   Agroenergia

Seminário CanaMS aborda desafios relacionados às pragas e doenças

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Foto: Hallino Soares

Hallino Soares - CanaMS reuniu mais de 100 participantes em Dourados

CanaMS reuniu mais de 100 participantes em Dourados

Mato Grosso do Sul se destaca no cenário nacional como o 4.º maior produtor de cana-de-açúcar e de etanol de cana, e o 2.º maior produtor de etanol de milho. Buscando contribuir com a sustentabilidade e avanços da produção de cana-de-açúcar na região, a Embrapa Agropecuária Oeste e a TCH Gestão Agrícola realizam o Seminário CanaMS. Na quinta-feira, 26 de junho, mais de 110 pessoas reuniram-se presencialmente durante o 2º Ciclo de Palestras realizado no auditório da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, MS. Esta edição teve como tema central pragas e doenças do canavial.

Dados da Biosul, informam que existem no estado 22 unidades em operação, todas são produtoras de etanol hidratado e cogeração de bioeletricidade, sendo 13 delas exportadoras do excedente para a rede nacional. A relevância do setor também se reflete nos impactos socioeconômicos: é responsável por mais de 30 mil empregos (diretos e terceirizados), com uma massa salarial de mais de R$ 1,2 bilhão, e representa 17% do PIB Industrial do Estado. 

Solenidade de abertura

O Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agropecuária Oeste, Rafael Zanoni Fontes, agradeceu a presença dos participantes e destacou a relevância do Seminário CanaMS que completa dez anos, no mesmo ano em que a Unidade completa 50 anos e acrescentou “ fazer 50 anos para uma instituição como a Embrapa, só foi possível devido às parcerias que foram construídas ao longo desses anos. O CanaMS é um exemplo desse tipo de parceria bem sucedida e que se tornou um evento muito relevante para o setor”.

O CEO da TCH Gestão Agrícola, José Trevellin Junior, destacou a importância do encontro nesta data, em que o setor encontra-se preocupado com os possíveis impactos das geadas nos canaviais, visto sua ocorrência na região no início desta semana. Ele informou ainda que ao longo do evento serão abordadas novas tecnologias, apresentação de dois cases de sucesso no manejo de pragas e doenças, além de exemplos de parcerias regionais bem sucedidas. 

O presidente da Sulcanas, Márcio Verrunes, enfatizou a relevância do evento e salientou que a associação está continuamente de portas abertas para atender as demandas e contribuir com o crescimento do setor.

Importância da sanidade das folhas

Foram realizadas quatro palestras na parte da manhã. A primeira foi ministrada pelo Gerente de Desenvolvimento de Mercado & Marketing da Agro-X, Bruno Polis que falou sobre estratégias de combate à estria vermelha. Estria vermelha e podridão de topo, que podem gerar morte do colmo, foram os temas centrais da fala dele. Bruno destacou a importância da sanidade de folhas, pois segundo ele “quanto maior for a sanidade das folhas do canavial, maior será a atividade de fotossíntese, maior atividade metabólica e maior produtividade final dos canaviais”. 

A estria vermelha é uma doença bacteriana de origem asiática, considerada secundária, mas que demanda controle, pois sua ocorrência é favorecida por calor e alta umidade. Ela pode ser controlada por meio do cultivo de variedades resistentes e manejo adequado. São conhecidos três tipos de sintomas da doença, descoloração no interior dos colmos e na região dos nós (assemelha-se aos sintomas do raquitismo da soqueira); surgimento de estrias brancas na folha e o sintoma agudo, queima total das folhas, como se a planta tivesse sido escaldada. 

Conceitos que fazem a diferença

Manejo biológico de doenças em cana foi o tema da palestra do Gerente de Marketing e Desenvolvimento de Mercado da Biotrop Soluções Biológicas, Leonardo Vitti Brusantin. Além de apresentar resultados obtidos com o controle biológico, que é um dos maiores programas do segmento sucroenergético e que contribui com a redução do uso de defensivos químicos, ele apresentou informações relevantes sobre o tema.

Em sua fala explicou ainda a diferença conceitual entre doença e síndrome e explicou que “síndrome não é uma doença. A síndrome é uma junção de fatores que geram sintomas e sinais que caracterizam uma condição, o que é o caso da síndrome da murcha, por exemplo”.  

Pragas dos canaviais

As principais pragas da cana-de-açúcar e táticas de controle foram tema da palestra do consultor de entomologia do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Fernando Cesar Pattaro. Ele começou sua apresentação falando da importância de identificar o que são pragas primárias ou chaves (frequentemente atingem o nível de controle) e o que são pragas secundárias (eventualmente atingem nível de controle e depende das estratégias de manejo adotadas). 

Segundo ele, no Brasil, as pragas são responsáveis por um prejuízo estimado de cerca de R$12 bilhões, sendo que somente a broca-da-cana é responsável por cerca de 50% dos prejuízos nos canaviais. É uma praga das Américas, que ocorre do Sul dos EUA até o Norte da Argentina, com mais de 20 espécies de Diatraea. “No Brasil a mais comum é a Diatraea saccharalis com grande potencial biótico, ao final de quatro gerações há o potencial de chegar a mais de 506 milhões de indivíduos”, explicou o pesquisador.

Manejo da murcha da cana

Foram realizadas quatro palestras na parte da tarde. A primeira foi ministrada por Alysson Ferreira dos Santos, coordenador de Desenvolvimento Agronômico na Unidade Santa Luzia (Nova Alvorada do Sul, MS), da Atvos. O tema da palestra foi “Manejo da síndrome murcha da cana na Atvos”. 

Em maio e junho do ano passado, os canaviais da empresa estavam um pouco debilitados devido ao déficit hídrico. Segundo Alysson, a equipe percebeu também que havia muitos colmos secos, o que resultou em quebra de produtividade. 

Fizeram um levantamento sobre o motivo e após a avaliação e quantificação da porcentagem de colmos atacados, concluíram que era necessário antecipar a colheita para evitar maiores perdas quando o número de colmos infectados fosse superior a 15%. Na pós-colheita, fizeram diversos tratamentos com primeira, segunda e terceira aplicações. “Estamos esperando que a média para a safra 2025/2026 do TCH seja de 75,4 toneladas por hectare e a colheita de 28.400 milhões de toneladas”, concluiu. 

Aproximação entre ciência e campo

A apresentação seguinte foi de Bruna Viola, gerente de relacionamento da Orplana (Ribeirão Preto/SP). Ela abordou a parceria entre a Embrapa e a Orplana que foi renovada em 2024, no “Cana Summit”, evento do setor sucroenergético sucroenergético, voltado para produtores fornecedores de cana-de-açúcar.

Segundo ela, “é um acordo que marca um novo passo na aproximação entre pesquisa científica e produção no campo”. Com validade inicial de cinco anos, o convênio prevê a validação e o teste de tecnologias diretamente nas propriedades rurais ligadas às associações de produtores de cana-de-açúcar filiadas à Orplana. O objetivo é acelerar a adoção de soluções voltadas a bioinsumos, manejo sustentável e desafios específicos das lavouras.

Bruna disse que, a partir dessa parceria, haverá uma série de workshops técnicos que reúnem pesquisadores da Embrapa, representantes das associações e produtores ligados à cultura da cana-de-açúcar. “As reuniões buscam identificar gargalos regionais e selecionar, em conjunto, as tecnologias mais adequadas a cada realidade”, explicou.

Alguns dos desafios são: necessidade de variedades mais resistentes ao déficit hídrico, capazes de manter a produtividade mesmo em condições climáticas adversas; controle de Sphenophorus levis e eficiência de produtos; entre outros.

A expectativa é que a iniciativa fortaleça as associações como elo entre ciência e produtor, levando ao campo soluções práticas e adaptadas. Para a gerente da Orplana, a parceria também “deve contribuir para que o produtor seja protagonista juntamente com as associações ao terem recomendações técnicas feitas pela pesquisa da Embrapa, tomando decisões técnicas mais embasadas. Com pesquisa, o produtor substitui tentativa e erro por técnica e precisão”, afirmou.

Estratégias contra perdas

O tema seguinte do Seminário foi “Manejo de pragas e doenças RAAA”, Thiago Gomes Veloso de Araújo, gerente técnico da Usina Rio Amambai Agroenergia (Naviraí, MS). Ele elencou quais ações pontuais foram tomadas em manejo integrado de pragas para Sphenophorus, Metamasius, pão-de-galinha, nematóides, bioestimulantes, adubação biológica e maturação. “Acreditamos no equilíbrio entre o manejo químico e biológico no manejo integrado”, disse Araújo.

Segundo ele, reduziram a infestação da broca-da-cana de 2,07% na safra passada para 0,7% nesta safra. 
Outras práticas adotadas pelas equipes da usina são protocolos agronômicos para serem adotados por todos os profissionais, uso da plataforma digital Protector que fornece dados integrados em tempo real para monitoramento e gestão das áreas; programa de qualidade TCH com presença da TCH Gestão Agrícola; programa de auditoria com inspeções; projetos com parasitas biológicos, como o Projeto Tetrastichus junto com a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD); workshops variados para manter a comunicação entre a equipe; biofábrica em parceria com a Solubio; e introdução de cultivares OGM (Organismo Geneticamente Modificado).

Tecnologias para produtividade e descarbonização

A última palestra foi de Luis Fernando, conhecido como Luisinho, desenvolvedor técnico de mercado do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba, SP. Ele ministrou a palestra “Novas Plataformas Tecnológicas do CTC”, destacando os avanços que visam dobrar a produtividade da cana-de-açúcar até 2040. A estratégia envolve o lançamento de variedades mais adaptadas a diferentes ambientes de produção, com maior potencial produtivo, melhor proteção contra pragas e doenças, e colheitas mais rápidas. 

Luis apresentou novas cultivares, além de soluções integradas de manejo que incluem diagnóstico remoto de pragas, estimativas precisas de produtividade e planejamento de reformas do canavial com alto grau de assertividade. Outro ponto forte da palestra foi a abordagem sobre o potencial de descarbonização da cadeia produtiva, com uso de banco de dados e ferramentas digitais de fácil uso, que dispensam conhecimento técnico avançado em tecnologia da informação. “O nosso compromisso é dobrar a produtividade até 2040. Isso equivale a 178,6 milhões de toneladas de carbono evitadas”, concluiu.

Encerramento e expectativas 

Para finalizar o evento, o pesquisador Cesar José da Silva, da Embrapa Agropecuária Oeste, e o diretor da TCH Gestão Agrícola, José Trevelin Junior, agradeceram a presença de todos. Trevelin lembrou que faz 22 anos que ele e a equipe chegaram a Mato Grosso do Sul vindos de São Paulo “com conhecimento restrito de São Paulo e várias demandas locais aqui no estado". O CanaMS surgiu com esse objetivo, de atender às demandas daqui e vejam o quanto temos de aprendizado”, disse.

Silva pontuou a evolução dos temas durante os dez anos de evento. “Vemos que os desafios estão sendo enfrentados e percebemos a maturidade das equipes com ferramentas, estratégias, produtos com retomada de biológicos, preocupação com o manejo de pragas e doenças, e com informações cada vez mais aprofundadas”, finalizou. 

Saiba Mais

Realizado pela Embrapa Agropecuária Oeste, em parceria com a TCH Gestão Agrícola, com apoio da Sulcanas e Biosul, o Seminário CanaMS pretende incentivar a troca de experiências em prol de informações que fomentem a produtividade do setor sucroenergético no Mato Grosso do Sul. Segundo Trevelin, o evento é uma oportunidade para que profissionais se atualizem sobre as últimas pesquisas, inovações e práticas de manejo.

O Seminário CanaMS 2025 conta com o patrocínio de importantes empresas do setor, incluindo Agro-X e Kracht Brasil (Diamante); Biotrop, Euroforte Agrociências e Ubyfol (Ouro); Microgeo e MS Drones (Prata); e Union Agro e CTC - Centro de Tecnologia Canavieira (Bronze). 

As inscrições são gratuitas e as atividades são desenvolvidas de forma híbrida. Os interessados podem assistir às palestras no Canal do Youtube da Embrapa. clique aqui

O 3º Ciclo de Palestras, do Seminário CanaMS, acontece no dia 14 de agosto, com o tema “Nutrição das Plantas”. Para mais informações, inscreva-se no Canal do Whatsapp do CanaMS, clique aqui

Vídeos

Vídeo após o evento com entrevistas e principais acontecimentos

Vídeo completo do evento

Christiane Congro Comas (MTb: 825/9 (SC))
Embrapa Agropecuária Oeste

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Silvia Zoche Borges (DRT-MG 08223)
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Mais informações sobre o tema
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