30/06/25 |   Gestão Estratégica  Mudanças climáticas  Agricultura de Baixo Carbono

Pegada de carbono na agricultura tropical exige ferramentas e métodos específicos, mostram pesquisadores no LAC Soil Carbon 2025

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Foto: Arquivo pessoal

Arquivo pessoal - Marilia, segunda da esquerda para a direita

Marilia, segunda da esquerda para a direita

Estudo destaca a importância de modelos e bancos de dados adaptados às particularidades dos trópicos para avaliar emissões de gases de efeito estufa com precisão

Ambientes tropicais têm alta produtividade, mas solos desafiadores
Modelos globais genéricos não captam as dinâmicas específicas dos trópicos
Ferramentas científicas devem ser transparentes, baseadas em dados regionais
Calculadoras brasileiras cCalc e RenovaCalc ilustram soluções eficazes
Abordagem multifacetada é essencial para integrar sustentabilidade ao setor

A pegada de carbono dos produtos agrícolas em ambientes tropicais demanda metodologias e ferramentas específicas que levem em conta as particularidades desses ecossistemas. A avaliação foi apresentada pela pesquisadora Marilia Folegatti no dia 25 de junho, durante o Latin American and Caribbean Symposium on Soil Carbon Research (LAC Soil Carbon) 2025, realizado no Brasil.

Ao contrário da agricultura em zonas temperadas, a agricultura tropical se beneficia de sol e calor constantes ao longo do ano, o que permite ciclos múltiplos de cultivo e elevada produtividade. No entanto, os solos tropicais são, em geral, altamente intemperizados, ácidos e com altos teores de alumínio — fatores que exigem práticas agrícolas inovadoras e modelos de avaliação adaptados à realidade local.

Segundo Folegatti, o uso de modelos globais genéricos pode levar a erros significativos na estimativa das emissões de gases de efeito estufa (GEE), por não refletirem adequadamente a dinâmica dos ecossistemas tropicais. Para enfrentar esse desafio, é necessário desenvolver abordagens específicas, considerando variedades de culturas locais, formas de manejo e condições climáticas da região.

Outro ponto crítico para garantir avaliações robustas da pegada de carbono é a construção de bancos de dados de Inventário do Ciclo de Vida (ICV) voltados à agricultura tropical. Esses bancos devem conter informações regionais detalhadas sobre insumos, processos e saídas da produção agrícola, de forma a oferecer suporte confiável para análises e decisões estratégicas.

Folegatti destacou ainda a importância do uso de ferramentas científicas baseadas em metodologias rigorosas, documentadas e transparentes. Essas ferramentas são fundamentais para embasar decisões de produtores, formuladores de políticas públicas e demais agentes do setor agrícola interessados em reduzir os impactos ambientais da produção.

Dois exemplos brasileiros ilustram o desenvolvimento e aplicação de ferramentas adaptadas ao contexto tropical. O primeiro é o cCalc, uma calculadora desenvolvida para estimar a pegada de carbono de sistemas de produção de culturas temporárias. A ferramenta oferece estimativas regionais de emissões de GEE, levando em conta as especificidades da agricultura tropical.

O segundo é o RenovaCalc, ferramenta oficial da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). O RenovaCalc é responsável por calcular a intensidade de carbono dos biocombustíveis produzidos no Brasil, sendo peça-chave para o alinhamento com metas nacionais e internacionais de sustentabilidade. Ambos os instrumentos representam a integração entre rigor científico e aplicabilidade prática para a avaliação de emissões em ambientes tropicais.

A apresentação de Folegatti ocorreu durante a primeira edição do LAC Soil Carbon, evento voltado à valorização do carbono do solo como recurso estratégico para a produção agrícola sustentável. O simpósio é uma iniciativa da Embrapa, do Centro de Pesquisa em Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON/USP), da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Associação Rede ILPF e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Agricultura de Baixo Carbono (INCT-ABC). A organização conta ainda com o apoio da iniciativa internacional “4 por 1000” e do Consórcio Internacional de Pesquisa em Carbono no Solo (IRC).

Com duração de três dias, o evento reúne pesquisadores, estudantes, formuladores de políticas públicas, representantes da sociedade civil, agricultores, técnicos e empreendedores para debater práticas sustentáveis e estratégias de regeneração da saúde dos solos na América Latina e no Caribe. O foco está na troca de experiências, apresentação de projetos e construção de soluções para desafios regionais e globais, com base em evidências científicas.

Ao colocar a pegada de carbono na agenda da agricultura tropical, os pesquisadores reforçam a necessidade de uma abordagem multifacetada que articule ciência, tecnologia e políticas públicas. A construção de modelos, bases de dados e ferramentas específicas para os trópicos é essencial para que a produção agrícola contribua efetivamente para o combate às mudanças climáticas e para a transição rumo a sistemas alimentares mais sustentáveis.

 

Cristina Tordin (MTB 28499/SP)
Embrapa Meio Ambiente

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