30/06/25 |   Mudanças climáticas  Produção animal

Pesquisa busca estratégias para a redução de GEE na piscicultura

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Foto: Luis Inoue

Luis Inoue - Monitoramento de qualidade de água e gases efeito estufa em lagoa de efluentes

Monitoramento de qualidade de água e gases efeito estufa em lagoa de efluentes

Em resposta às crescentes preocupações com as mudanças climáticas globais, a Embrapa Agropecuária Oeste (MS), em parceria com a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), lidera uma pesquisa no Brasil focada em mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na aquicultura. O estudo, com foco inicial na criação de tilápias, que representa 65% da produção aquícola nacional, visa aprimorar a formulação de rações para peixes com o objetivo de reduzir resíduos e, consequentemente, diminuir a pegada de carbono dessa importante cadeia produtiva. Outra parte diz respeito ao manejo da piscicultura e seus resíduos com o mesmo objetivo. 

A pesquisadora Tarcila Souza de Castro Silva, da Embrapa Agropecuária Oeste, explica que o principal objetivo desta pesquisa é aumentar a eficiência alimentar das tilápias, minimizando a quantidade de sobras de ração, fezes e carcaças que se acumulam na água e nos sedimentos dos sistemas de cultivo e acrescenta “estudos indicam que apenas 20% a 30% da matéria orgânica e nutrientes da ração se transformam em biomassa de peixes, com a maior parte se tornando resíduo e contribuindo para a emissão de GEE”.

Luis Antonio Kioshi Aoki, também pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, explica que um dos principais resultados esperados com a pesquisa está relacionado a redução dos impactos ambientais diretos das emissões de GEE, a otimização da alimentação dos pescados e formas de reaproveitamento dos resíduos gerados pelo sistema, proporcionando ainda mais sustentabilidade aos sistemas aquícolas. “A redução da pegada ambiental é considerada essencial para que os produtores brasileiros possam competir em mercados internacionais com normas ambientais rigorosas e estamos trabalhando para contribuir com esses resultados ainda melhores”, afirma Inoue.

Os cientistas acreditam que existe uma relação crucial entre a nutrição dos peixes e as emissões de gases. "A alimentação artificial dos peixes representa o maior aporte de matéria-orgânica e nutrientes nos ambientes aquícolas. Uma menor parte desses são retirados dos sistemas, por meio da retirada dos peixes na despesca. O restante desses materiais nem sempre são possíveis de serem removidos, o que podem representar as maiores fontes para as emissões de gases efeito estufa", explica Tarcila.

Tarcila informa que os gases que estão sendo estudados, atualmente,  incluem dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Ela informa que "quanto maior o volume de sobras, fezes e carcaças na água, maior é a emissão de gases, em especial, o metano. Por isso, estamos empenhados em otimizar a alimentação dos peixes com ingredientes e formulações que atendam às suas necessidades, melhorem seu desempenho e reduzam os resíduos na água”.

Para ela, nesta pesquisa estão sendo dados os primeiros passos para analisar o aproveitamento de cada ingrediente e a quantidade de GEE gerados". Ela  ressalta ainda a importância de estudos anteriores que revelaram que cada quilo de ração fornecida aos peixes gera aproximadamente 240 gramas de fezes de peixes e explica “precisamos diminuir esse volume, pois excesso de fezes na água podem prejudicar a sustentabilidade do ambiente".

Paralelamente, a equipe explora outras possibilidades para lidar com os excessos de resíduos. O pesquisador Inoue conta que toda a equipe do Laboratório de Piscicultura da Embrapa tem se dedicado a explorar formas de coletar e reutilizar os resíduos gerados pelos peixes, especialmente em sistemas de produção mais intensivos, como os tanques elevados.

A intenção é viabilizar informações que possibilitem a utilização desses resíduos na produção de bioinsumos ou biogás e contextualiza a importância dessas práticas "as boas práticas de manejo na aquicultura tornam-se fundamentais para a aquicultura, especialmente na redução dos impactos ambientais, incluindo a diminuição das emissões de GEE. Adoções estratégicas, como alimentação apropriada, monitoramento frequente da qualidade da água e manejo eficaz dos efluentes, são essenciais para minimizar esses impactos e fomentar a sustentabilidade da atividade".

O pesquisador Laurindo André Rodrigues salienta que a pesquisa realizada pela Embrapa Agropecuária Oeste, está diretamente alinhada ao Plano Estadual MS Carbono Neutro, que visa neutralizar as emissões de gases de efeito estufa em Mato Grosso do Sul até 2030. O Estado, com grandes áreas voltadas para as atividades agropecuárias vem desenvolvendo estudos e políticas públicas, buscando incentivar adoção de práticas agropecuária que contribuem com a redução das emissões de GEE. “A pesquisa na aquicultura, portanto, contribui para essa meta estadual”, acrescenta ele.

 

Métodos e adaptação de equipamentos

Dada a inovação da pesquisa, ela demanda uma ampla estruturação de métodos de pesquisa, que envolve desde a seleção e a escolha de equipamentos adequados, calibração e manuseio dos mesmos. Até a capacitação de pessoas para o avanço da pesquisa. Dentre as ações já realizadas destaca-se a que ocorreu em outubro de 2023, quando foi feito um treinamento da equipe do projeto sobre métodos de mensuração de GEE e modelagem de temperatura da água, visando consolidar os estudos e disseminar boas práticas de manejo e monitoramento ambiental na aquicultura. Este treinamento contou com a participação de pesquisadores, estudantes e professores de instituições parceiras como UFGD, UEMS, UFMS, Embrapa Agricultura Digital, Embrapa Meio Ambiente e Embrapa Pesca e Aquicultura, e foi ministrado pelo professor Nathan Oliveira Barros.

Alguns conhecimentos metodológicos também já estão sendo compartilhados com a academia. Recentemente, em maio, dez estudantes de pós-graduação em Zootecnia, da UFGD, acompanhados pela professora da disciplina "Tópicos Especiais II: Gases de Efeito Estufa na Produção Animal", Ana Carolina Amorim Orrico, participaram de uma aula prática no Laboratório de Piscicultura da Embrapa, onde conheceram a pesquisa e os equipamentos utilizados para quantificar e reduzir GEE. “Foi um dia de trabalho muito útil, pois os estudantes puderam conhecer, na prática, como a tecnologia é utilizada para quantificar e reduzir emissões de GEE. Eles aprenderam sobre métodos e tecnologias avançadas para medir emissões em campo e em condições controladas. Visitaram estruturas experimentais de compostagem de resíduos e compreenderam a relevância dos estudos sobre a influência da dieta na composição das fezes e produção de metano em biodigestão”, conta a professora. 

 

A pesquisadora Tarcila destacou que essa experiência "integra o conhecimento teórico com a realidade do trabalho científico, fortalecendo a formação dos futuros zootecnistas em sustentabilidade e na aplicação de tecnologias para uma produção animal de baixo carbono".

Foto: Sedimentos e/ou fezes de peixes coletados em lagoa de decantação, em processo inicial de decantação, para realização de etapas posteriores da pesquisa. Crédito: Luis Inoue

Estas pesquisas estão sendo realizadas pela Embrapa Agropecuária Oeste e contam com apoio financeiro do Governo do Estado (Edital do Fundect: Carbono Neutro e Mudanças Climáticas) por meio de dois editais, que tiveram seus projetos aprovados, intitulados, respectivamente, "Estratégias para mitigação das emissões dos gases de efeito estufa a partir da reciclagem e agregação de valor dos resíduos da piscicultura" e "Métodos de mensuração de GEE e modelo para estimativa de temperatura da água em função da temperatura do ar como estratégias de mitigação das emissões de GEE na produção de peixes".

Existe ainda um terceiro projeto de pesquisa, em andamento, que conta com apoio do Governo Federal, por meio do Edital Universal CNPq, intitulado “Influência de diferentes fontes proteicas e energéticas na alimentação de tilápias sobre a digestibilidade, caracterização dos resíduos e emissão de gases de efeito estufa”.

As atividades de pesquisa contam com a participação de pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados/MS), Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna/SP), Embrapa Agricultura Digital (Campinas/SP), Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas/TO), além de docentes e discentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

 

Indústria de rações conhece pesquisa

Além de conhecimentos acadêmicos e desenvolvimento de métodos inovadores da pesquisa, esse estudo também foi apresentado e validado junto ao setor produtivo, no V Workshop sobre Nutrição em Aquicultura, realizado na primeira quinzena de maio, quando a pesquisadora fez uma palestra sobre o assunto. O evento foi realizado pela pelo Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, uma entidade que reúne diversos membros, tanto da academia, quanto das indústrias produtoras de insumos, aditivos e/ou rações animais, para diversas cadeias produtivas de proteínas animais. 

Tarcila explica que a aquicultura é uma das cadeias produtivas que mais vem crescendo em termos de consumo de rações industrializadas para a alimentação dos peixes de cultivo e dos camarões, com um avanço de crescimento médio de quase 10% ao ano, desde 2003.

“A importância da qualidade e a influência das rações alimentação dos pescados, em relação a emissão de gases de efeito estufa foi o destaque central da palestra”, disse Tarcila. Ela também apresentou a pesquisa que está sendo realizada pela Embrapa, destacando que a alimentação artificial dos peixes representa o maior aporte de matéria-orgânica e nutrientes nos ambientes aquícolas e explicou que “a nutrição e a alimentação adequadas são essenciais para a maior sustentabilidade dos sistemas aquícolas, inclusive do ponto de vista da pegada de carbono”.

Foto: Tarcila Castro Silva em palestra durante o V Workshop sobre nutrição em aquacultura, realizado em São Paulos (SP).
Crédito: Divulgação

Christiane Congro Comas (MTb/SC: 825/9)
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