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29/08/25 |   Agricultura familiar  Florestas e silvicultura  Geotecnologia  Mudanças climáticas  Transferência de Tecnologia

Tecnologias da Embrapa ajudam famílias a manejar castanha com sustentabilidade

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Foto: Mauricilia Silva

Mauricilia Silva -

Em uma aliança estratégica para a valorização da castanha-da-amazônia (ou castanha-do-brasil, castanha-do-pará) e a mitigação do desmatamento, o Projeto Rio Madeira- iniciativa de REDD+ (Redução de emissões  provenientes do desmatamento e da degradação florestal)- estabeleceu parceria com a Embrapa Acre. A colaboração abrange 52 mil hectares entre Rondônia e Amazonas e atua em duas frentes principais: gestão florestal e fortalecimento da cadeia produtiva da castanha-da-amazônia  (castanha-do-brasil ou castanha-do-pará). 

Um dos pilares da iniciativa é o uso do Netflora, tecnologia desenvolvida pela Embrapa com o apoio do Fundo JBS, que utiliza drones e Inteligência artificial. Pesquisadores, com o uso da ferramenta, já realizaram inventário de 26 mil hectares de floresta e identificação de 27 mil castanheiras e 23 espécies florestais na área do projeto. A Embrapa oferece também capacitação técnica aos extrativistas, incentivando boas práticas de coleta de castanha-da-amazônia e o uso de tecnologias para uma gestão mais eficiente dos castanhais. 

Ancorado na bioeconomia da região, o projeto atribui a floresta em pé um valor que vai além do ambiental e incorpora também dimensões econômicas e sociais. “Ao promover a conservação dos castanhais e a coleta sustentável, por meio de um acordo com os proprietários da área, os extrativistas passam a integrar uma cadeia produtiva de base florestal, que também contribui para a redução de emissões de gases de efeito estufa”, destaca Jessica Guin, coordenadora da Future Climate, empresa responsável pela gestão dos créditos de carbono nas fazendas. Em contrapartida, os extrativistas são beneficiados por ações estruturantes como capacitações, melhorias logísticas e valorização do trabalho na coleta da castanha.

 

O programa de geração de crédito de carbono do Projeto Rio Madeira começou em 2019, com um período de execução previsto para 30 anos e a estimativa é que vai evitar a geração de 15 milhões de  toneladas de carbono na atmosfera. O manejo dos castanhais e a presença dos coletores na atividade, em uma área de projeto REDD+ privado é de grande importância. “São eles que conhecem essa região como ninguém,  têm uma relação ancestral com os castanhais e  agora passam a ser reconhecidos também como guardiões da floresta em um modelo que une conservação e geração de renda”, avalia Jéssica.

 

Mapeamento das trilhas  

O mapeamento detalhado das castanheiras gerado com as imagens obtidas pelo Netflora é fundamental para aprimorar o manejo dos castanhais e orientar as ações de conservação. Os mapas gerados foram disponibilizados em aplicativo de mapa offline para smartphones. Os coletores foram capacitados para usar o “app” que  permite navegar e coletar dados em áreas remotas sem conexão com a internet. “Essas informações possibilitam melhorar a organização da coleta e, futuramente, até garantir a rastreabilidade da castanha, desde a floresta até o consumidor final”, destaca o pesquisador Luciano Ribas, responsável pela atividade no projeto.  

Segundo o pesquisador, com as informações que a tecnologia oferece aumenta o potencial de ganho financeiro dos extrativistas, com o mesmo esforço de trabalho. Além de orientar de forma mais precisa os limites das áreas de coleta de castanha das famílias, o aplicativo permite que os extrativistas visualizem as trilhas já usadas e outras árvores próximas ainda não exploradas. 

Qualidade e segurança na coleta  

Um dos principais desafios enfrentados pela cadeia produtiva da castanha-da-amazônia é a contaminação por aflatoxinas, substâncias tóxicas produzidas por fungos, que afetam a saúde humana. Cleísa Brasil, pesquisadora da Embrapa Acre e coordenadora do projeto,  explica que a prevenção da contaminação das castanhas por aflatoxinas é essencial para que o produto tenha  acesso a mercados mais exigentes, especialmente os internacionais. Para isso, o projeto promove a sensibilização e capacitação dos coletores para adoção de boas práticas na produção de castanha.

“Uma castanha de qualidade assegurada, é condição para entrar no circuito comercial e, consequentemente, melhorar a renda de extrativistas”, afirma Cleísa. “Nosso objetivo é sensibilizar as famílias coletoras sobre procedimentos que envolvem a forma correta e segura de coleta e quebra dos ouriços, a seleção das sementes, o armazenamento apropriado e o transporte em condições adequadas. Ela ressalta que, além da qualidade do produto, a segurança dos coletores é uma etapa fundamental, devido aos riscos do trabalho na floresta”, complementa.

Para reforçar a importância do tema, o vídeo educativo “Boas práticas de produção da castanha-da-amazônia”, produzido  no âmbito da parceria do Projeto Rio Madeira, orienta sobre as etapas essenciais para garantir a qualidade do produto e segurança dos extrativistas. Nele, os personagens Lúcia e João dão dicas sobre a coleta de castanha-da-amazônia e de cuidados simples que podem reduzir as contaminações desse alimento e garantir a segurança dos extrativistas. 

Outra vertente do projeto é o reforço da segurança, por meio da doação de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) a todos os participantes do grupo da Fazenda Nova Fronteira, uma das propriedades que  faz parte do projeto de REDD+. “Ao mesmo tempo em que incentivamos uma produção mais sustentável, observamos a necessidade de garantir a integridade física dos coletores”, acrescenta Cleísa.

 

Protagonismo das mulheres 

A coleta da castanha envolve toda a família e a participação das mulheres é essencial, embora, ainda seja pouco reconhecida. Mulheres como Maria Maia participam de todas as etapas, desde a coleta e quebra dos ouriços até o transporte do produto. “Nós fazemos tudo o que os homens fazem, até o trabalho mais difícil que é carregar saco de castanha nas costas para o carreador, onde o trator passa para buscar nossa produção”, afirma.

Maria Aparecida, outra coletora da região, lembra que desde aos 12 anos já acompanhava os pais. Mais de quatro décadas depois, permanece na atividade ao lado dos filhos e  irmãs, mantendo a tradição familiar. Já dona Luzia Maia, que  trabalha com as filhas Maria e Eliane Maia, traz uma história marcada de apego à floresta e às castanheiras, entre elas a batizada de “princesa”, que desde a primeira vez que colheu os ouriços dela tem garantido uma excelente produção.

A diversidade de histórias no extrativismo — tanto de mulheres quanto de homens, é também contada no  vídeo “Projeto Rio Madeira: a floresta é nossa maior riqueza”, que  traz o depoimento de Paulo Lima da Costa, coletor de castanha desde a infância. Ele compartilha sua relação com a floresta, o orgulho pela atividade extrativista e a importância da conservação como herança para as futuras gerações. Sua história, assim como a  de Maria e Eliane, representa as de  tantas famílias,  que há décadas vivem da castanha, incluindo as mulheres, que reivindicam mais visibilidade e reconhecimento.

 

Mauricilia Silva (MTb 429/AC)
Embrapa Acre

Priscila Viudes (MTb 030/MS)
Embrapa Acre

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Mais informações sobre o tema
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