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Delegações africanas conhecem tecnologias da Embrapa na AgroBrasília
Foto: Paula Rodrigues
Fábio Faleiro, da Embrapa Cerrados, apresentou as cultivares de pitaya desenvolvidas pela Empresa
Após a apresentação da presidente Silvia Massruhá na programação de terça-feira (20) na AgroBrasília, as delegações do II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural seguiram para a vitrine de tecnologias da Embrapa, onde acompanharam explicações sobre diversos cultivos e sistemas de produção que podem ser adaptados às condições das savanas africanas.
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O pesquisador Gustavo Braga, da Embrapa Cerrados, falou sobre opções de gramíneas e leguminosas forrageiras para diferentes sistemas de produção. “As pastagens são a base da pecuária brasileira, seja de corte, seja de leite. E as forrageiras utilizadas no Brasil Central são quase todas de capins originários da África”, disse, citando as braquiárias, que representam mais de 80% dos pastos na região, o capim Panicum maximum e os capins-elefantes para uso como capineira. Segundo Braga, a demanda por sementes forrageiras deve aumentar devido à tendência de uso dos capins também como plantas de cobertura em sistemas integrados.
As culturas da soja e do trigo, adaptadas ao Cerrado brasileiro graças a pesquisas em melhoramento genético da Embrapa e parceiros, foram apresentadas pelo biólogo Sérgio Abud, da Embrapa Cerrados. Ele informou que a produtividade média brasileira de soja está entre 55 e 60 sc/ha, alcançando 85 sc/ha em produtores mais tecnificados. “Para atingir produtividades acima de 100 sc/ha, o básico é um bom preparo químico, físico e também biológico do solo, utilizando plantas de cobertura”, comentou.
Com a redução do ciclo da soja de 140 para cerca de 110 a 120 dias devido ao melhoramento genético, foi possível introduzir o milho safrinha consorciado com a braquiária, que fornece alimento aos animais na estação seca. “A soja permite a integração com sistemas de produção, trazendo mais rentabilidade ao produtor na mesma área, sem a necessidade de desmatamento”, disse. “É nessa situação de manejo integrado que entra a cultura do trigo. Quando plantamos o trigo após a soja, a palha do trigo no solo evita muitas doenças da soja na safra seguinte. Conseguimos colher 50 a 60 sc/ha de trigo e 70 sc/ha de soja na mesma área”, completou.
A analista de Transferência de Tecnologia (TT) da Embrapa Arroz e Feijão Luciene Camarano abordou a pesquisa com diversos tipos de grãos de feijão adaptados às diferentes regiões brasileiras. “Temos cultivares de ciclo curto, de 70 dias, proporcionando segurança alimentar e economia de insumos, sobretudo, água”, disse. A pesquisa também busca desenvolver cultivares mais produtivas e resistentes a doenças. Nesta edição da AgroBrasília, serão lançadas as cultivares BRS FS212 (feijão especial) e BRS FC423 (feijão carioca).
Também analista de TT da Embrapa Arroz e Feijão, Rodrigo Silva falou sobre o arroz de terras altas. Ele apresentou as cultivares BRS A502, BRS A503 e BRS A504 CL, de grão branco, longo fino, translúcido e macio, padrão preferencial do brasileiro, e desenvolvidas a partir dos quatro pilares trabalhados pela pesquisa: tolerância a doenças, qualidade de grão, não acabamento e não tombamento, e produtividade. Silva explicou que o arroz de terras altas associado a outras culturas é uma inovação no sistema de produção em áreas com irrigação por pivô central no Cerrado. Além da alta produtividade e rentabilidade, com apenas um terço do volume de água exigido no sistema irrigado, a palha e o sistema radicular que ficam no solo e beneficiam as culturas subsequentes. Ele citou números de uma fazenda no PAD-DF que obteve, em 2023, 163 sc/ha de arroz, 77 sc/ha de feijão, 94 sc/ha de soja. “São mais de 300 sc/ha de cereais produzidos num ciclo produtivo de 11 meses. Isso é a revolução, num combo de genética, ambiente favorável e manejo ajustado”, afirmou.
A cultura da mandioca foi apresentada por Eduardo Alano, chefe-adjunto de P&D da Embrapa Cerrados. O pesquisador detalhou as características e os sistemas de produção dos dois grupos produzidos no Brasil – mandiocas de mesa e de indústria (para farinha e amido). A pesquisa atua no melhoramento genético, gerando cultivares para os diferentes mercados, como a mandioca de mesa de polpa amarela BRS 429, presente na vitrine. No Distrito Federal e Entorno, é realizado o melhoramento participativo, em que mandiocultores ajudam a selecionar as variedades. “O interessante é que eles comercializam e nós temos, ainda, a resposta de quem comprou”, disse. Um grande desafio é promover o uso integral da mandioca. A pesquisa tem buscado soluções para integrar o cultivo com a produção animal utilizando a parte aérea da planta.
Os visitantes conheceram o sistema de plantio direto de hortaliças e diversas cultivares dessas espécies. Nos plots das hortaliças Panc (plantas alimentícias não convencionais), o técnico Mario Luiz da Silva mostrou espécies rústicas como vinagreira, bertalha, caruru e taioba. Ele ressaltou o valor nutritivo das Panc, como a ora-pro-nóbis, reconhecida pelo alto teor de proteína. A pesquisadora Caroline Jácome, chefe-geral da Embrapa Hortaliças, acrescentou o apelo das hortaliças Panc para a agricultura familiar. “Essas espécies têm baixa necessidade de aporte de insumos e são muito resistentes a condições adversas de clima”, frisou.
As delegações também conheceram as cultivares desenvolvidas pelo programa de melhoramento genético de batata-doce. A pesquisadora Larissa Vendrame apresentou o tipo de raiz mais comercializada no Brasil, de polpa creme e pele rosada, e também as cultivares de polpa colorida. “Os materiais de polpa roxa são ricos em antocianinas, pigmento com propriedades antioxidantes, e as raízes de polpa alaranjada possuem alto teor de provitamina A”, ressaltou, ao mencionar o êxito de países como Moçambique na adoção da batata-doce alaranjada em programas voltados à saúde, em especial a redução de casos de cegueira infantil por déficit de vitamina A.
Nos canteiros cultivados com alho, o pesquisador Francisco Vilela falou sobre os diferentes níveis tecnológicos nas regiões produtoras. “Próximo da área da AgroBrasília, temos os maiores produtores de alho do País, com um alto nível de especialização e uso de técnicas de tratamento do alho-semente para resistir às altas temperaturas”, explicou. Quanto à agricultura familiar, ele destacou o alho livre de vírus, tecnologia que possibilitou maior competitividade. “Na década de 1990, os agricultores de base familiar não obtinham mais do que 3 t/ha e, atualmente, com a adoção do alho livre de vírus, a produtividade gira em torno de 15 t/ha. Em áreas com alto aporte tecnológico, pode-se alcançar até 25 t/ha”, exemplificou.
O sistema de plantio direto de hortaliças foi explicado pelo pesquisador Raphael Melo como uma tecnologia incentivada em programas do governo como o Plano ABC+, com foco na redução de emissões de carbono e na adaptação à mudança climática. “O SPDH contribui para a qualidade do solo e a adaptação de hortaliças, especialmente no verão chuvoso. É um compromisso da pesquisa aumentar a área de hortaliças cultivada sob esse sistema, especialmente nas regiões serranas que sofrem com deslizamentos”, pontuou.
Na área de fruticultura, as cultivares de maracujá e pitaya foram apresentadas pelo pesquisador Fábio Faleiro, chefe de TT da Embrapa Cerrados. “No Brasil, há mais de 200 espécies de maracujá, sendo 70 com frutos comestíveis. Há múltiplos usos para a fruta, desde suco da polpa e extração de óleo da semente até aproveitamento da casca para consumo animal e uso das flores para extração de aroma”, comentou, ao exibir o portfólio de cultivares com diferentes aptidões: ornamental, medicinal, azedas, doces e miniaturas.
Sobre as pesquisas com pitaya, fruta rica em fibra e antioxidantes, o pesquisador disponibilizou o acesso ao sistema de produção e outras publicações da Embrapa, como um livro de receitas com a fruta. O destaque ficou por conta da cultivar de pitaya BRS Luz do Cerrado, cuja planta pode produzir cerca 60 frutos de até 1kg cada.
Os resultados de experimentos com sistemas integrados foram apresentados pelo pesquisador Roberto Guimarães. Ele deu ênfase aos consórcios de integração lavoura-pecuária (ILP) e aos três princípios da agricultura conservacionista: revolvimento mínimo do solo, cobertura orgânica permanente do solo e diversificação de espécies. “O produtor deve estar no centro do processo de inovação e a Embrapa busca o desenvolvimento de tecnologias para dar suporte às necessidades dos produtores”, ressaltou.
Breno Lobato (MTB 9417/MG)
Embrapa Cerrados
Paula Rodrigues (MTB 61.403/SP)
Embrapa Hortaliças
Mais informações sobre o tema
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