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20/05/25 |   Mecanização e Automação  Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação  Transferência de Tecnologia  Agricultura de Baixo Carbono

Equipe do PROCarbono representa o Brasil em evento sobre agricultura regenerativa e descarbonização nos EUA

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Foto: Divulgação.

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A equipe do projeto PROCarbono, uma cooperação técnica entre a Embrapa e a Bayer, participou de um evento internacional sobre agricultura regenerativa e descarbonização no Loews Chicago Hotel (EUA) de 12 a 14 de maio. Chamado re.gen.nect, o evento contou com aproximadamente 130 participantes de 14 países, incluindo especialistas de ponta, empresas, agricultores e certificadoras.

O principal objetivo do re.gen.nect  (consulte a agenda aqui) foi discutir o estado da arte da agricultura regenerativa no mundo em seis painéis que abordaram soluções agronômicas e os cobenefícios dessa prática, buscando “cultivar uma mudança de paradigma”: como aproveitar a ciência e a inovação para medição, relatório e verificação (MRV) do processo produtivo e seu impacto ambiental? Foram ouvidos os principais líderes do setor, trazendo tendências macro que moldam o caminho para a expansão da agricultura regenerativa.

Os trabalhos da Embrapa fizeram parte do painel 3 – “Aproveitando a ciência e a inovação para medição, relatório e verificação do impacto ambiental em larga escala”. O painel explorou como a Bayer, Embrapa e seus parceiros identificaram esses obstáculos e desenvolveram soluções baseadas na ciência para superá-los.

O pesquisador da Embrapa Agricultura Digital, Luís Gustavo Barioni, líder do projeto PROCarbono, apresentou a palestra “Bem-vindo aos desafios e soluções da agricultura de carbono nos trópicos”, onde falou sobre as dimensões do projeto que envolve 47 cientistas, 19 instituições, 90 consultores, 1.960 produtores, 300 mil amostras de solo e que gerou, até o momento, 26 artigos publicados em revistas científicas de alto impacto.

A Calculadora Footprint PROCarbono (FPC), desenvolvida pela equipe da Embrapa Meio Ambiente, liderada pela pesquisadora Marília Folegatti, coordenadora do Work Package 4 na cooperação técnica com a Bayer, fez parte da apresentação de Barioni. “É um exemplo tangível de aplicação em cerca de 159 mil hectares no Centro-Oeste do Brasil”, enfatizou ele.  

A principal entrega do Work Package 4 é esta ferramenta, que estima a pegada de carbono de produtos agrícolas, com módulos para soja, milho e algodão. “Uma calculadora de emissões de carbono no ciclo de vida desenvolvida para trabalhar com dados específicos de campo coletados em sistemas agrícolas tropicais”, explica Marília.

Os pontos fortes da ferramenta são a utilização de abordagem de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), com base nas normas ISO 14.040, ISO 14.044, ISO 14.067, além da Guia LSRG, do GHG Protocol; as estimativas das emissões de Mudança de Uso da Terra (MUT) pelo modelo BRLUC; o modelo para alocação de cargas ambientais em sistemas agrícolas e; a análise de incertezas. Além disso, a calculadora é verificada por terceira parte. “Ela é capaz de expressar a pegada de carbono específica do produto de um determinado talhão agrícola, expressando seu desempenho técnico e ambiental e indicando pontos com oportunidade de melhoria", salienta Marília.

A média nacional da pegada de carbono da soja é de 1.526 kg de CO2 eq./t (gás carbônico equivalente por tonelada), usando-se a base de dados internacional ecoinvent v. 3.9.1. “É um número que se chegou a partir dos trabalhos da Embrapa, em iniciativas para a adequação de inventários de ciclo de vida à agricultura tropical”, informa a pesquisadora.

Com o estabelecimento do projeto PROCarbono chegou-se a 643 kg CO2 eq./t. (média do programa). Considerando os  talhões que adotam as melhores práticas agroambientais, a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) chega-se a 75%, em relação à média nacional (383 kg CO2 eq./t.).  “Esse é o resultado da adoção de dados primários, específicos do talhão, com a aplicação dos modelos desenvolvidos pela Embrapa, empregados no projeto", detalha Marília.

Barioni apresentou também no evento o modelo PROCarbon-Soil (PROCS), o primeiro modelo de dinâmica de carbono no solo desenvolvido no Brasil. Este modelo é pioneiro na estimativa das variações do estoque de carbono para a agricultura tropical, e possui características matemáticas e estatísticas inovadoras, proporcionando significativos ganhos de precisão e escalabilidade para projetos de sequestro de carbono na agricultura brasileira. “Não havia, até o momento, nenhum modelo de dinâmica do carbono do solo desenvolvido especificamente para o mercado de carbono e calibrado para condições tropicais”, exemplificou Barioni.

O modelo PROCS está associado ao modelo CNPP, um modelo também desenvolvido durante o projeto para estimativa do crescimento vegetal e aporte de carbono por culturas de grãos no Brasil. Os modelos PROCS e CNPP também estão acoplados ao estado da arte de tecnologias de fusão modelo-dados, que permitem significativos ganhos de acurácia e recalibração dos modelos em tempo real. Esses modelos já estão sendo testados por pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido para aplicação em outros países ao redor do mundo.

Foi também apresentado, de forma inédita, uma solução integrada com a Calculadora Footprint PROCarbono (FPC), que consiste em uma solução única globalmente.

Cientistas brasileiros no evento

Especialistas exploraram os impactos negativos das mudanças climáticas na produtividade agrícola em diferentes países e apresentaram práticas regenerativas específicas para cada região para o enfrentamento desses desafios. Ao destacar diversas soluções agronômicas e seus cobenefícios – como melhoria da saúde do solo, aumento da biodiversidade, conservação da água e fortalecimento dos meios de subsistência dos agricultores – esta discussão destacou o potencial transformador da agricultura regenerativa.

Foram trazidas experiências de projetos de agricultura regenerativa da Bayer distribuídos pelo mundo: Estados Unidos, Reino Unido, Índia, Brasil, dentre outros países. Do Brasil, além dos modelos PROCS, para sequestro de carbono no solo, e Footprint PROCarbono, para pegada de carbono de produtos, foram apresentados trabalhos de pesquisa com plantas de cobertura, além de depoimentos de agricultores.

O professor da Esalq/USP e vice-diretor do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON/USP), Maurício Cherubin, participou do Painel 1 – Explorando a Agricultura Regenerativa: Impactos, Desafios e Oportunidades em Todo o Mundo com a palestra sobre a “Agricultura regenerativa na América Latina e Caribe (ALC): a saúde do solo como base”. Para ele, "o evento foi uma oportunidade muito importante para discutirmos os avanços e desafios da agricultura regenerativa nas diferentes regiões do mundo”, salientou.

Cherubin conta que felizmente há um alinhamento comum em todo o mundo de que é necessário avançar nesta agenda, cada região com seus desafios específicos. “Ou seja, estamos todos na mesma direção. Todavia, os avanços que temos no Brasil, com uso massivo do sistema plantio direto, plantas de cobertura e sistemas integrados nos colocam na vanguarda da agricultura regenerativa no mundo”, completa. Para Cherubin, o Brasil provavelmente é o local com as maiores oportunidades neste assunto.

Globalmente, se entende que a transição para a Agricultura Regenerativa exige uma visão holística do sistema de produção, partindo da melhoria da saúde do solo, para que se possa produzir mais e ter maior resiliência do sistema, particularmente nesta atualidade de mudanças climáticas.  “O sequestro de C e a redução das emissões de GEE são consequências de um conjunto de práticas de manejo que melhoram o sistema como um todo”, explicou ele.

Finalmente,  ele considera que os pesquisadores brasileiros que participaram do evento foram muito assertivos em suas falas, demonstrando claramente avanços no monitoramento da saúde do solo, dos estoques de carbono a partir de modelagem, do cálculo da pegada de carbono e do grande potencial de implementação das práticas de agricultura regenerativa no Brasil. “Fiquei orgulhoso de confirmar que nosso País está na vanguarda da geração de conhecimento, tecnologias e na adoção de agricultura regenerativa”, salientou.

Eduardo Bastos, presidente da Câmara de Agrocarbono Sustentável do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), também participou do evento, no Painel 5 – “Investir na Agricultura Regenerativa: Fortalecendo a Cadeia de Valor e Construindo um Futuro Sustentável”.

Produtores rurais também contaram suas experiências

Além de cientistas, o evento aproximou produtores agrícolas de vários países (Estados Unidos, Reino Unido, Índia e Brasil), que trouxeram suas experiências no painel “Lições do Campo: Insights Práticos sobre Escala e Adoção da Agricultura Regenerativa”.

Do Brasil, a produtora Aline Vick apresentou a experiência de agricultura regenerativa que ela emprega na fazenda da família, em Pirassununga (SP).

Marília enfatiza que o Brasil é pioneiro na adoção das práticas regenerativas. “Está literalmente décadas à frente de outros países”.

Os painelistas compartilharam suas experiências, explorando os desafios, oportunidades e impactos tangíveis que a agricultura regenerativa teve em seus negócios. De técnicas inovadoras que melhoram a saúde do solo, a biodiversidade e o sequestro de carbono a abordagens práticas para superar barreiras como restrições financeiras e lacunas de conhecimento, as histórias destacaram o potencial transformador das práticas regenerativas e os principais aprendizados de suas jornadas com os cobenefícios da agricultura regenerativa, incluindo maior resiliência, sustentabilidade e lucratividade das fazendas.

Eliana Lima (MTb 22.047/SP)
Embrapa Meio Ambiente

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