Johanna pelo olhar dos colegas: cientista, mulher, mãe e gestora
Notável cientista, capaz de inspirar gerações, Johanna Döbereiner era famosa pelo rigor junto a seus bolsistas e pelo zelo constante com a pesquisa científica. Não apenas os resultados eram importantes para ela - mas também o método, o modo de desenvolver os estudos. No entanto, Johanna não era apenas uma máquina de fazer ciência. Ela era também mãe e mulher; cuidava da casa, organizava o jardim, costurava suas próprias roupas e exercia múltiplos papeis. Chegou a ser chefe de Unidade - a Embrapa Agrobiologia - e mesmo assim não deixou a pesquisa de lado. Não abria mão do cafezinho diário, aquela hora de descontração em que analistas, técnicos e pesquisadores se encontravam para dar uma pausa no trabalho e, informalmente, trocar ideias e experiências. E mais: recebia visitantes do mundo inteiro. Gostava de compartilhar o conhecimento, pois dizia que era isso que fazia a ciência avançar.
Pesquisadora da Embrapa desde 1994, Verônica Massena Reis foi uma das muitas orientandas de Johanna Döbereiner. Foi sua bolsista de iniciação científica em 1981 e também mais tarde, em 1987, quando cursou seu mestrado em Ciências do Solo, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mais tarde, entre 1991 e 1994, fez doutorado, também em Ciências do Solo pela UFRRJ, e em 2004 concluiu seu pós-doutorado. "Johanna era uma pessoa muito entusiasmada. Amava o que fazia e nada deixava ela em casa, nem a doença, nem as tristezas por que passou", ressalta Verônica. Hoje em dia, a pesquisadora mantém os estudos relacionados à Fixação Biológica de Nitrogênio em gramíneas, especialmente milho e cana-de-açúcar. "Johanna criou uma rede internacional que suplantou sua morte. Foi uma chama que manteve aceso e multiplicou o trabalho dela. Hoje o Brasil faz uso dessa tecnologia, especialmente do inoculante contendo bactérias diazotróficas em gramíneas", aponta. Veja o depoimento completo de Verônica ao lado.
Mas se a troca de experiências e conhecimentos contribui para esse avanço, a capacidade de inovação é o que garante vida longa à ciência. E, segundo um dos fundadores e ex-presidente da Embrapa, Eliseu Alves, assim foi Johanna: uma inovadora. "Todo cientista contribui para a ciência na medida em que é um inovador e cria ideias novas. Se ele está repetindo o que todo mundo faz, pode ser importante para o País, mas não é importante para a ciência", diz, em depoimento sobre a trajetória de Johanna (ao lado). Engenheiro agrônomo, Eliseu atuou na Emater/MG de 1955 a 1973 e integrou o grupo de trabalho que desenvolveu a ideia de reformar a pesquisa agrícola do Ministério da Agricultura - da qual nasceu a Embrapa. Foi diretor da Empresa de 1973 a 1979 e depois se tornou diretor-presidente, entre 1979 e 1985. Era ele que estava à frente da Empresa quando Johanna conquistou muitos de seus méritos. "Ela é um exemplo para a Embrapa, com sua persistência e determinação. E para a agricultura brasileira deu uma enorme contribuição, ao fazer com que a soja brasileira se tornasse totalmente competitiva no mercado internacional", pontua.
"Comecei como estagiário de Johanna e fui terminar na presidência da Embrapa. Muito da dra. Johanna está nessa minha conquista maravilhosa que eu tive ao longo de minha vida na carreira de pesquisa e de gestão", destaca o pesquisador Pedro Antonio Arraes Pereira, que geriu a instituição entre julho de 2009 e outubro de 2012. Engenheiro agrônomo pela UFRRJ, ele foi bolsista de Johanna na Embrapa Agrobiologia ainda quando estava no primeiro ano da faculdade. "A importância do trabalho da Johanna é uma coisa extraordinária. Foi uma das poucas brasileiras indicadas ao Prêmio Nobel. Ela teve todo um trabalho inovador do qual tive a honra de poder participar, em fixação em gramíneas. Foi uma mulher inovadora, no método, estava acima do seu tempo. Eu a considero, na área agrícola, a maior cientista que o Brasil já teve", opina o ex-presidente, ressaltando ainda que muito do que a Embrapa é hoje deve-se ao pioneirismo do trabalho de Johanna Döbereiner sobre FBN em gramíneas. "Tenho certeza de que ela foi um ícone para a ciência agrícola brasileira".
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