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06/06/25 |

I Seminário Brasileiro da Palmeira Juçara em Sistema Agroecológico fortalece articulações, integra saberes e dá visibilidade à espécie

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 - Compuseram a mesa de abertura do evento o chefe-adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Florestas, Osmir Lavoranti; o prefeito de Rio Novo do Sul-ES, Jocenei Castelari; representando o deputado Goura, Iracema Bernardes; A coordenadora de monitoramento do uso da flora do Ibama, Fernanda Ramos Simões e a diretora da Universidade Federal do Paraná-Setor Litoral, Vanessa Marion Andreoli.

Compuseram a mesa de abertura do evento o chefe-adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Florestas, Osmir Lavoranti; o prefeito de Rio Novo do Sul-ES, Jocenei Castelari; representando o deputado Goura, Iracema Bernardes; A coordenadora de monitoramento do uso da flora do Ibama, Fernanda Ramos Simões e a diretora da Universidade Federal do Paraná-Setor Litoral, Vanessa Marion Andreoli.

 

Com o objetivo de discutir o estado da arte da palmeira juçara (Euterpe edulis Martius), importante espécie da Mata Atlântica, e articular ciência, políticas públicas e práticas locais, foi realizado, entre 14 e 16 de maio de 2025 no campus da Universidade Federal do Paraná, em Matinhos - PR, o I Seminário Brasileiro da Palmeira Juçara em Sistema Agroecológico. O seminário reuniu cerca de 80 pessoas, entre elas gestores públicos das esferas federal, estadual e municipal, agricultores, profissionais, empreendedores, pesquisadores e universidades em torno de um objetivo comum: a palmeira juçara como instrumento para um futuro de conservação e restauração da Mata Atlântica com renda e justiça social. O evento foi transmitido e sua gravação encontra-se disponível no canal da Embrapa do youtube.

O evento foi uma ação do projeto Fortalecimento da Rede Agroflorestal Produtora de Biodiversidade do Litoral do Paraná – BioSAF, coordenado por Luís Claudio Froufe, pesquisador da Embrapa Florestas, e que está inserido no Programa de Conservação da Biodiversidade - TAJ Litoral do Paraná. Participaram do seminário representantes de mais de 30 instituições públicas, como IBAMA, ICMBio, Jardim Botânico do RJ e de dezenas de órgãos de meio ambiente e agricultura de estados de quatro das cinco regiões brasileiras. “Debatemos a necessidade de normas claras para o cultivo e a comercialização da palmeira juçara, além da necessidade de incentivar o desenvolvimento de pesquisas e inovações tecnológicas e a organização das redes de produção locais”, destaca Eduardo Seoane, pesquisador da Embrapa Florestas e presidente da comissão organizadora do evento.

O professor Gilson Dahmer, da Universidade Federal do Paraná (UFPR Litoral), foi um dos participantes que, diante da percepção de um mosaico fragmentado de políticas públicas e regulamentações, propuseram a criação de um Plano de Ação Nacional (PAN), com metas de conservação e incentivos ao plantio e produção agroecológica da palmeira, a qual foi bem aceita na assembleia geral na finalização do seminário.

O professor da UFPR Litoral Manoel Lesama destaca a urgência de políticas públicas integradas que promovam plantios da espécie, considerada em extinção, “-enquanto fortalecem cadeias produtivas agroecológicas de segurança alimentar e econômica da espécie, baseadas na produção de polpa de açaí juçara”. Desde a abertura até a assembleia final, o seminário foi marcado por uma reflexão sobre a relação da palmeira juçara com a restauração da Mata Atlântica. “A palmeira juçara tem papel-chave na teia alimentar da Mata Atlântica, com seu fruto alimentando dezenas de mamíferos e aves, incluindo várias espécies em extinção. E o manejo agroecológico da palmeira juçara é um instrumento para restaurar a fauna e a flora. Há locais no Sul do Brasil onde o manejo sustentável aumentou as populações de palmeira juçara”, afirmou Maurício Sedrez dos Reis, professor da Universidade Federal de Santa Catarina.

A pesquisadora Norma Hilgert, da Universidad de Misiones (UNaM), Argentina, enfatizou que é possível coletar frutos da juçara nos remanescentes florestais da Mata Atlântica de maneira sustentável. “Dar voz aos povos que tradicionalmente se relacionam com a espécie é um importante instrumento para apoiar a construção de políticas públicas simples e que funcionem. Aprendemos com a comunidade local que na coleta de frutos da juçara o primeiro cacho de frutos deve ser para o consumo da fauna local, já o segundo cacho daquela planta é para produção de polpa”. Wagner Portilho, da Fundação Florestal de São Paulo, trouxe a experiência de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que remunera agricultores por plantar e cuidar da palmeira juçara em terras quilombolas e de outras comunidades tradicionais. Fábio Zambonim, da Epagri-SC, propôs um olhar integral ao cultivo da juçara. “Mesmo que o plantio seja para a produção de fruto, haverá a produção de palmito no desbaste seletivo de jovens e na substituição de matrizes por outras mais adequadas, por exemplo de mais baixa estatura e com abundante produção precoce”.

Um dos temas centrais foi a regulamentação da cadeia produtiva. “A maioria dos estados brasileiros com populações naturais da palmeira juçara traz pouco ou nenhum incentivo ao seu plantio e manejo em sistema agroecológico, pelo contrário, muitos estados criam obstáculos para agricultores familiares, o que tende a favorecer operações de maior escala em monocultura, com potencial menor de justiça social e promoção de serviços ecológicos, o que  reforça a necessidade de políticas públicas de certificação para os sistemas agroecológicos”, afirmou Eduardo Seoane. “O transporte de palmito da juçara é regulamentado pela legislação federal e sua legalidade depende da emissão do Documento de Origem Florestal -DOF”, diz Fernanda Ramos Simões, coordenadora de monitoramento do uso da flora do Ibama.

Os desafios logísticos também foram discutidos. Agricultores relataram que o alto custo do processamento e a falta de infraestrutura (como freezers comunitários) limitam a expansão dos mercados. “O projeto BioSAF tem parceria da Embrapa buscando soluções criativas locais, já instaladas como o sorvete de juçara, e potenciais, como a polpa desidratada em pó, que dispensa cadeias de frio e amplia o acesso a mercados distantes”, afirma Seoane. "Um quilo de polpa em pó equivale a 10 kg de polpa congelada, reduzindo custos de transporte", explicou Camila Serena, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

A certificação emergiu como ferramenta estratégica. Uma iniciativa gaúcha foi considerada uma inspiração para os demais estados. Leonardo Urruth, da Secretaria de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (SEMA-RS), detalhou que “a certificação agroflorestal e extrativista, e o selo criado para reconhecimento dela nos produtos, têm garantido segurança jurídica para os agricultores e acesso a mercados formais, inclusive institucionais, que demandam regularização ambiental”.  “As certificações pioneiras do RS e a da Rede Ecovida de Certificação Participativa de produtos agroecológicos podem e devem ser base para mecanismos para certificar pessoas e territórios”, enfatiza Seoane. 

A inclusão da palmeira Juçara no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) foi outro ponto consensual. Fabiana Ruas (Incaper) destacou o sucesso do patrimônio cultural da Juçara no Espírito Santo, onde a polpa virou ingrediente de merenda escolar e geleias artesanais. Experiências como esta do Espírito Santo e também em São Paulo mostraram que a polpa pode enriquecer a alimentação escolar, mas esbarra na resistência de merendeiras pela mão de obra de bater a polpa com outros ingredientes. “Um blend de polpa de juçara com banana e talvez mais algum ingrediente pode solucionar essa questão”, afirmou Catie Godoy, pesquisadora da Embrapa Florestas na área de processamento e agroindústria familiar. Peggy Thamary (UnaM) sugeriu oficinas de culinária para capacitar profissionais. "Quando aprendem a fazer sorvetes e pães com Juçara, elas se tornam multiplicadoras", afirmou.

Demanda para a pesquisa

A necessidade de uma compreensão mais precisa da distribuição de Euterpe edulis no Brasil foi destacada como uma lacuna importante. "É essencial verificar onde a espécie ainda ocorre de forma natural e investigar aspectos populacionais que contribuam para uma avaliação mais acurada do seu risco de extinção. É fundamental catalogar indivíduos de Euterpe edulis em áreas naturais, especialmente naquelas sem registros prévios de coleta, assim como em sistemas de plantio agroflorestal", evidenciou o biólogo Eduardo Amorim, representante do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A deposição de material coletado em herbários cria um registro permanente da espécie, o que facilita pesquisas futuras e amplia o acesso à informação. Luis Froufe enfatiza que “é fundamental catalogar a juçara em áreas de plantio agroflorestal, pois esses registros subsidiam políticas públicas mais restauradoras e justas. A ausência dos registros da espécie em agroflorestas distorce a percepção da situação de E. edulis frente à extinção, pois, embora intensamente ameaçada em habitats naturais, dados indiretos demonstram que está se recuperando em sistemas agrícolas”. A catalogação pode ser feita por diversos órgãos, entre eles a Embrapa, universidades e coletivos espontâneos.

O seminário também olhou para outras experiências internacionais, como a citada por Daily García (Conicet- UNaM), ao mostrar como a Argentina transformou a palmeira juçara em aliada da conservação na província de Misiones, com certificação de produtos e turismo ecológico. "Lá, os visitantes pagam para colher frutos diretamente nas palmeiras, gerando renda para comunidades", contou. E a justiça social permeou os debates. Jonas de Souza do Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), lembrou que a palmeira juçara está presente em territórios quilombolas e indígenas, onde seu manejo deve ser liderado pelas comunidades. "Precisamos de políticas que reconheçam esses saberes tradicionais", defendeu. Joana Bassi (SEMA-RS) acrescentou que mulheres são as principais guardiãs da espécie no RS, mas têm menos acesso a crédito.

A articulação em rede foi apontada como caminho para superar desafios. O biólogo Diogo Busnardo foi um dos idealizadores do seminário e é coordenador da Rede Juçara Viva, uma plataforma digital para agregar as iniciativas em todo o país. "Assim, por exemplo, um agricultor do Paraná pode aprender com técnicas testadas no ES", disse. O agroecólogo Marcos Vinicius Pichel, do Instituto Juçara de Agroecologia, sugeriu que “se estenda os incentivos para que a palmeira juçara em sistema agroecológico se torne uma agenda do governo, com um programa nacional próprio”.

Encaminhamentos

Nos grupos de trabalho, surgiram encaminhamentos, como a elaboração de uma moção ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) para priorizar o PAN da Juçara até 2026; a formatação de uma campanha "Juçara na Escola" para inserir a polpa na merenda de dez estados até 2027 e a necessidade de editais de pesquisa para tecnologias de baixo custo, como equipamentos de colheita. Os participantes ainda irão elaborar um documento que será enviado a governos e instituições, buscando fundamentar políticas públicas para triplicar as áreas de palmeira juçara manejada de maneira agroecológica até 2030. Além disso, este trabalho em conjunto tem como meta criar um fundo nacional para apoiar cooperativas.

Para Eduardo Seoane, o legado do seminário vai além da conservação. "Na produção agroecológica da palmeira Juçara é possível reconciliar economia e ecologia". Já agricultores como Gilberto Ohta, de Sete Barras SP, e Pedro Oliveira, de Adrianópolis PR, celebraram a oportunidade de diálogo. "Pela primeira vez, nossa voz foi ouvida na mesma mesa que pesquisadores e governo", afirmou Ohta. Pedro Oliveira, fundador da Cooperafloresta, destacou “a alegria em plantar, manejar e alimentar-se de agroflorestas. Não quero e não consigo fazer outra agricultura”, afirmou.

O grupo já planeja o próximo seminário para 2026, quando buscará avaliar os progressos alcançados.

 

Acesse a gravação completa do evento clicando aqui.

 

Manuela Bergamim (MTb 1951-ES)
Embrapa Florestas

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