Cientistas do clima, produtores rurais e comunidades ribeirinhas e indígenas discutem a complexidade do Pantanal
Cientistas do clima, produtores rurais e comunidades ribeirinhas e indígenas discutem a complexidade do Pantanal
Debate reúne sindicatos, comunidades indígenas, especialistas em mudanças do clima e sindicatos rurais
O debate ocorreu durante o evento Diálogos pelo Clima – Bioma Pantanal, em Corumbá
O Pantanal e sua complexidade exigem estratégias, por vezes, audaciosas, por parte das organizações e pesquisadores. O cenário tornar-se mais crítico com os impactos negativos das mudanças climáticas, marcada pelo aumento e frequência de eventos extremos, como secas e incêndios florestais. Especialistas apostam na resiliência do bioma, mas temem os efeitos na biodiversidade e na vida das populações locais. Essa foi uma das conclusões da segunda mesa redonda que debateu sobre o futuro da ciência para alcance de sistemas produtivos resilientes à mudança do clima, durante o evento Diálogos pelo Clima, bioma Pantanal, realizado em Corumbá, em 12 de junho.
Durante um dia, cientistas, especialistas em mudança do clima, produtores rurais, indígenas, povos ribeirinhos, organizações não governamentais, sindicatos rurais, prefeituras e representantes do governo do estado, participaram do evento, que foi organizado em palestras, apresentações técnicas e mesas redondas.
A gravação da apresentação artística, das palestras e das mesas redondas já está disponível:
Os produtores rurais da região estão entre as comunidades do Pantanal. Para o gestor público, Artur Falcette os atores desse território também são parte da solução para a agenda climática. O secretário-adjunto da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado (Semadesc) destacou que mais de 90% das áreas sul-mato-grossenses estão em propriedades privadas. “São ao redor de cinco mil propriedades e a conservação do bioma passa pelos produtores”, enfatiza Falcette.
Dentro dessa complexidade, o Estado tem incorporado os serviços ecossistêmicos em suas políticas públicas, com editais em andamento para projetos dentro do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais – PSA Bioma Pantanal, PSA Brigadas e, em breve, PSA Conservação e Biodiversidade.
“É um desafio em termos de governança, os recursos financeiros são limitados e há limites para a gestão pública, mas Mato Grosso do Sul busca, desde o início, trazer algum tipo de modernidade à legislação e atender aos anseios do setor produtivo, sem esquecer das questões ambientais”, afirma o secretário.
Em alerta constante
Do lado do Pantanal mato-grossense, as preocupações circulam os empreendimentos hidroelétricos, que alteram o ciclo do bioma. Cerca de 70% da água do Pantanal sai do Estado de Mato Grosso e o uso de dragas para melhorar a navegação tende a aumentar, no contexto de mudanças climáticas, devido a diminuição do nível e frequência das chuvas.
Professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Ibraim Fantin da Cruz, pede cuidado em relação a tais intervenções. Ele alerta sobre “os impactos negativos na conectividade fluvial e no estoque pesqueiro. Além disso, ao se restringir um fluxo, o escoamento pode causar inundação em outro ponto”.
Pesquisador em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, ele ressalta a necessidade de um manejo adequado de forma a otimizar a produção enérgica, mas sem esquecer do contexto social e ambiental.
Boas práticas em andamento
Já a atuação da extensão rural junto ao produtor tem trazido experiências positivas. Uma delas está no sul do Mato Grosso, onde Marcelo Nogueira, supervisor em bovinocultura de corte do Senar-MT, atua. Desde 2018, a Embrapa Pantanal lidera ao lado da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT) e da Associação dos Criadores de Mato Grosso o projeto Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS).
Foto abaixo: modelo de uma fazenda pantaneira sustentável (crédito: CNA)
Com meio milhão de hectares com pecuária produtiva e sustentável, aproximadamente, na região de Cáceres, Poconé, Rondonópolis, Itiquira e Barão de Melgaço, Nogueira revela que o maior obstáculo é chegar ao produtor, é levar a ciência da Embrapa até o pecuarista, e isso, o extensionista consegue. Para ele, como o Pantanal são vários em um, o profissional precisater essa visão da pecuária pantaneira, que é tão peculiar; e o modelo da atividade pode ajudar a difundir a agenda climática.
O FPS com o auxílio do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) e dos sindicatos rurais, realiza diagnósticos ambientais, sociais e econômicos em propriedades rurais nesses municípios e os extensionistas visitam os locais, periodicamente, não somente para o levantamento de informações como para orientações técnicas.
Malas prontas para a COP30Essas e outras reflexões estarão presentes nas discussões da COP30, em Belém (PA). A Embrapa Pantanal (Corumbá-MS) levará ainda como é feito o controle de desmatamento em Mato Grosso do Sul, o controle de pastagens em Mato Grosso, a evolução das fazendas pantaneiras e os trabalhos com as populações tradicionais e ribeirinhas. “A comunidade deve participar ativamente e a Embrapa sozinha não consegue resolver todos os problemas. É uma ação conjunta”, ressalta o pesquisador da Embrapa, Carlos Padovani. Endossado por Gilson de Barros, vice-presidente do Sindicato Rural de Corumbá, que acrescenta a urgência em conhecer cada local do Pantanal, vivenciar os problemas e juntar esforços. “As dificuldades são únicas e, daqui para frente, a situação vai piorar”, desabafa. Apesar do poder de adaptação e resiliência do Pantanal, Padovani lembra que o tempo de resposta do meio ambiente é lento, ao se comparar à velocidade dos efeitos arrasadores das mudanças climáticas. A aldeia indígena Guató da Barra do São Lourenço, no Pantanal, sabe bem disso. Os incêndios dos últimos anos, em grandes proporções na região, trouxeram graves consequências, como a escassez e insegurança alimentar e a intoxicação por fumaça dos moradores. Para o cacique Negre, esperar é um verbo que hoje não cabe mais. “Temos que nos adaptar e colaborar, porque se trata da nossa sobrevivência”, frisa. ‘Assim, a COP30 verá que o homem pantaneiro, seja pecuarista, seja ribeirinho, seja indígena,seja pesquisador, também são Pantanal”, afirmaram os integrantes do painel. |
Confira aqui mais informações sobre o evento em Corumbá:
- Especialistas debatem desafio se conquistas do Bioma Pantanal
- Embrapa e parceiros promovem evento Pré-Cop sobre os desafios climáticos do Pantanal
O circuito de eventos Diálogos pelo Clima compõe a Jornada pelo Clima, projeto de grande envergadura que evidencia a ciência na agropecuária brasileira como um pilar essencial para a transformação sustentável. A Jornada pelo Clima conta com o patrocínio master do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), patrocínio Biomas do Ministério da Pesca e Aquicultura, patrocínio Bioma Local da Caixa Econômica Federal e apoio Institucional da Prefeitura Municipal de Corumbá. |
Dalízia Aguiar
Embrapa Gado de Corte
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/